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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Vamos falar de Foucault



A postagem não se trata de um Foucault par lui même, já que o francês sempre detestou que outros o definissem. Ele preferia chamar seu trabalho de uma "arqueologia do saber". D'où parles tu? Para nosso querido gauchiste, a importância não está no que você diz, mas por que você diz. Trocado em miúdos e adiante, Foucault, o Michel, se entranha por todo tipo de área na busca da gênese do poder. Em outras palavras, todas as pessoas estariam engajadas, em suas ações, pela necessidade de ter poder umas sobre as outras. Portanto, Foucault disseca desde a Renascença (período para ele no qual o homem realmente se tornou homem) boa parte das instituições ocidentais àquela mesma guisa dos intelectuais da Île-de-France com sua vie bohème café, liquor da revolução. Nem mesmo a medicina é poupada (Foucault era filho de médico), colocada à ótica da queridíssima Social-text. O Nascimento da Clínica (1963), por exemplo, é um dos livros no qual Foucault argumenta que o papel do nosocômio e seus hipocráticos nada mais é que reestabelecer normalidade ao indivíduo patológico, de forma que a prática clínica é na verdade uma terrível atitude de observação e punição da moléstia por meio do paciente. O Hospital (bendita criação humana!), dessa forma, é um ambiente de exclusão da sociedade. E aí começa toda a lacrimosa fala gauche em favor dos oprimidos.

A análise inquietante de Foucault se estende aos institutos militares e penitenciárias (Vigiar e Punir), se utilizando dos termos de Jeremy Bentham  (1785) sobre uma prisão ideal que poderia observar a todos os seus internos (panóptico), coisa similar ao grande irmão de George Orwell no livro 1984 (ao trocar os dígitos, o livro foi escrito em 1948!). A graça é que Orwell buscou justificar os erros da URSS por meio de sua obra, de forma a condená-la. Já Foucault e a Nova Esquerda, como gosta de dizer Roger Scruton, buscam nos erros soviéticos as novas bases para atualizar o marxismo. Nesse sentido, muito bem analisada por Eric Voeglin é a mistura entre esquerdismo e gnosticismo, de forma que Marx, ademais, não é ulterior a um mero botão no jardim das aflições. A esquerda (gauchiste) francesa trabalhou fortemente na coisa nenhuma, sendo seu maior trunfo os protestos, à Sorbonne, de maio de 1968, quando nas ruas de Paris a juventude escrevia "é proibido proibir". Embriogênese desnaturada de nossos militantes que, a símile, esboçam "não mereço ser estuprada" e "constituinte já!" às ruas da cidade. É interessante que a França, com muito gosto, foi um Estado socialista no mínimo desde 1985 juntamente com a Espanha, coisa muito pouco analisada quando, à época (e até hoje por filósofos como Dugin de Moscou) se estampava Ocidente x Oriente, como se o mundo bipolar e o terceiromundismo (outra invenção às esquerdas por Immanuel Wallerstein) realmente existissem. 

A terra do Foucault é a mesma de Nossa Senhora de la Salette e de Simone de Beauvoir, a mãe das feministas. Michel Foucault, com sua arqueologia do (des)saber, ao lado de Lacan, Derrida, Sartre, Deleuze et al. muito contribuíram para a redundância do nada. Quem quiser encontrar críticas satisfatórias às suas obras, recomendo o mais novo lançamento em português de Roger Scruton, Pensadores da Nova Esquerda, e o Imposturas Intelectuais, de Alan Sokal e Jean Bricmont, que são praticamente uma onda de dessabor a toda Intelligentsia pós-estruturalista.

Essa apresentação seminal poderá prosseguir posteriormente. Vale lembrar, antes da partida, o corolário não inédito para os leitores da obrigatoriedade de Foucault em faculdades de direito e até de medicina. O francês, ao buscar em cada instituição (igrejas, mosteiros, hospitais, hospícios, presídios...) a razão de sua existência, encontrou simplesmente a necessidade de normalizar o indivíduo, de forma que aqueles que não se encaixavam nos padrões sociais burgueses tivessem que ser excluídos. Qualquer livro dele retrata esse ponto de vista (Nascimento da Clínica, Vigiar e Punir, História da Loucura, Microfísica do Poder etc.). É a velha tese marxista do discurso de classe. À francesa, retoricamente à pergunta d'où parles tu?, se poderia responder "não importa o conteúdo de minha fala, mas a qual classe eu pertenço". O mel que passa pela boca de Foucault é o mesmo de Dugin, para os interessados. 

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