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Ninrode: idolatrado até mesmo por quem nem ouviu falar dele. |
O Estatismo parece ser uma religião no Brasil. Embora a situação não pareça ser muito diferente em outros países, o caso brasileiro parece ser de uma profundidade que espanta até mesmo quem sempre viveu aqui. Evidências disso são, por exemplo, as promessas feitas em campanhas eleitorais comprometendo-se a criar um "Estado forte" ou um "Estado eficiente", as quais parecem seduzir os ouvidos inocentes com um poder quase mágico. As pessoas bradam chavões do tipo "eu tenho direito à segurança", "direito à saúde", "direito à educação", crendo sem vacilar que é dever do todo-poderoso Estado suprí-las por completo. As pessoas comuns, ao que parece, crêem que por meio do Estado serão realizados plenamente os ideais de justiça, igualdade, fraternidade, união e solidariedade, e quando perguntadas sobre a maneira pela qual o Estado atingiria essa perfeição romântica, as resposas variam desde o inocente "não sei" até manifestações quase cínicas em favor de um Estado totalitário, que controla a vida de seus cidadãos do berçario da maternidade ao túmulo.
Antes de iniciar minhas colocações, entretanto, devo salientar que não se deve confundir o Estatismo com a crença na utilidade do estado. O primeiro se refere à crença implícita (ainda que desmentida no nível consciente) da infalibilidade do Estado; e se expressa naquela atitude mental comum nos dias atuais que consiste em querer depender do estado para tudo. O segundo é a simples convicção de que o Estado tem sim um papel importante na consolidação e manutenção das instituições, das liberdades, da cultura e da identidade íntima de uma nação.
Essa crença estatista (que já foi mencionada neste blog - http://blogjuces.blogspot.com.br/2014/12/estatismo-uma-questao-de-fe.html), que vê o Estado como um plenipotenciário juíz e provedor de beneces encontra um paralelo espantoso nas palavras de Hegel, quando disse que o Estado é "deus andando na Terra". E essa não é a única ocasião em que o autor da "Filosofia da História" se refere ao Estado nesse tom de reverência solene, pois esta frase não foi apenas um insight passageiro e sem importância em sua conhecida obra. Nas palavras de Olavo de Carvalho:
"[...] pesquisas recentes demonstraram que Hegel, que se declarava fiel protestante e nunca foi membro de qualquer grupo esotérico ou sociedade secreta, recebia no entanto dinheiro de agremiações maçônicas interessadas em promover a idéia de uma religião de Estado para se substituir à Igreja cristã (católica ou reformada)"[1].
Ou seja, o filósofo alemão sabia muito bem o que estava fazendo, e ainda que com as melhores intenções não tenha tido a noção exata das consequências daquilo que escrevia, ele se colocara
"[...] meio às tontas, a serviço da causa que mais nitidamente caracteriza a política do Anticristo sobre a Terra: investir o Estado de autoridade espiritual, restaurar o culto de César, banir deste mundo a liberdade interior que é o reino de Cristo"[1].
Sobre a maneira como o reino de Cristo pode ser impedido de ser alcançado, algo já foi falado em meu post anterior (http://blogjuces.blogspot.com.br/2014/12/ambientalismo-carta-da-terra-e.html), embora lá estivesse relacionado com a maneira como este reino é substituído por uma religião da "Terra". Este culto à "Gaia" e o Estatismo estarão, contudo, num futuro talvez não tão distante, numa simbiose sombria onde o Estado será o grande, tirânico e idolatrado gestor da vida e da atividade humana, e agirá em nome da "Terra" e sob o pretexto de cultuá-la e defendê-la. Esta simbiose, ao que parece, será ela própria a engrenagem mestra do governo mundial vindouro, e a maneira como tal quadro está sendo desenhado pode ser constatada a partir das leituras de [2] e [3].
Sobre a "restauração do Culto à César", contudo, há algo de mais profundo a ser dito. Nos trechos citados acima, Olavo de Carvalho cita o culto ao imperador como oposição frontal ao reino de Cristo provavelmente pelo fato de que o Messias viveu na Judéia, sob o jugo de Roma, e foi crucificado sob acusação de querer ser um novo "rei" para os judeus, fato que inclusive motivou os deboches que sofreu tanto de Herodes quando dos que O crucificaram, pondo sobre a sua cabeça a placa "ESTE É O REI DOS JUDEUS" (Cfr. Lucas 23:8-12 e 23:38). Não é neste momento, porém, que o Estatismo - em oposição ao Deus Criador - pode ser primeiramente constatado nas Sagradas Escrituras. Suas origens são muito mais longínguas e é bem provável que os maçons patrocinadores de Hegel soubessem disso (ver [5]).
Tudo começou (pra variar...) no Gênesis. No capítulo 10 do primeiro livro de Moisés temos uma primeira indicação disso, onde está escrito (grifos meus):
"E Cuxe [neto de Noé] gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra. Foi valente caçador diante do Senhor; daí dizer-se: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor. O princípio de seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar. Daquela Terra saiu ele para a Assíria e edificou Nínive, Reobote-Ir e Calá. E, entre Nínive e Calá, a grande cidade de Resém" (Gn. 10:8-12, versão Almeida Revista e Atualizada).
Algo muito importante a ser notado aqui é a citação de que Ninrode foi "valente caçador diante do Senhor". Na Bíblia Judaica Completa (traduzida do hebraico-aramaico-grego para o inglês por David H. Stern, e depois para o português), este mesmo trecho diz que ele foi "um caçador poderoso perante Adonai [Deus]". Note-se que os termos "diante" ou "perante", como se pode constatar a partir do exame de outras versões da Bíblia, não denotam apenas algo como "estar à frente", mas sim algo como estar à frente em oposição, num tom de desafio à Deus. Um exemplo disso pode ser visto na Bíblia Judaica Completa, onde no texto citado de Gênesis, está escrita a palavra "perante"; no livro de Jó, porém, enquanto a versão Almeida diz que os filhos de Deus vieram apresentar-se "perante" Ele, a versão Judaica diz que os filhos de Deus vieram "servir a Adonai" (Jó 1:6). Ou seja, há aqui uma diferença clara entre apresentar-se "para" Deus e apresentar-se "diante" ou "perante" Ele, onde esta segunda denota uma atitude de oposição ou conflito por parte de quem se apresenta. É importante salientar aqui que a versão Judaica está mais próxima dos textos originais do que a Versão Almeida, pois esta foi traduzida a partir de outras versões já traduzidas em outras línguas diferentes.
Sobre este trecho da Bíblia, João Calvino fez a seguinte declaração:
"A expressão "diante do Senhor" me parece declarara que Ninrode tentou se elevar acima da ordem dos homens; assim como os orgulhosos são levados por uma autoconfiança vã, que eles podem olhar para baixo como se estivessem assentados nas nuvens acima dos outros"[4].
Outro relato interessantíssimo sobre Ninrode pode ser encontrado no chamado Livro de Jasar (ou Livro de Jasher, ou ainda Livro dos Justos; disponível na internet). Este livro, embora não conste no cânone bíblico, é citado em Josué 10:13 e em II Samuel 1:18. Diversos trechos do referido livro (a partir do capítulo 7) falam a respeito de Ninrode, como e quando este nasceu, como se tornou forte e poderoso no período pós-diluviano, e como lutou várias guerras e saiu vencedor de todas elas. Cita inclusive que Terah, pai de Abraão, foi um de seus mais estimados subordinados, chegando a ser líder de uma fileira de soldados. O próprio livro cita ainda como Ninrode passou a ser idolatrado, sendo coroado rei sobre TODOS OS HOMENS, que vinham até ele atraídos por sua fama e glória, ofertando-lhe presentes e unido-se a ele. Nesta época, segundo o relato, Ninrode habitava a terra de Sinar (Sinear, Shinar ou Sh'nar).
O texto salienta também que foi Deus quem fez Ninrode prosperar, e que entregou nas mãos dele "todos os seus inimigos". No auge de seu poder, no entanto, Ninrode passou a se rebelear contra Deus, edificando altares de madeira e pedra e curvando-se ante aos tais, tornando-se assim o "homem mais perverso" que havia existido desde o Dilúvio. O trecho a seguir é de particular interesse e nos mostra como o Estatismo em oposição à Deus chegou ao ponto mais crítico:
"E o rei Ninrode reinou seguramente, e toda a terra estava sob seu controle, e toda a terra possuia uma só língua e [falava] palavras de união. E todos os príncipes de Ninrode e seus grandes homens tomaram juntos conselho; Phut, Mitzraim, Cush [Cuxe] e Canaan [Canaã] com suas famílias, e eles disseram uns aos outros: vamos construir nós mesmos uma cidade em uma grande torre, e [com] seu topo alcançando os céus, e nós iremos alcançar fama, tal que nós poderemos reinar sobre todo o mundo, de modo de que o mal de nossos inimigos poderá cessar contra nós, tal que poderemos reinar poderosamente sobre eles, e que nós não nos tornaremos espalhados sobre a terra por conta de suas guerras. E todos eles foram à presença do rei, e disseram ao rei estas palavras, e o rei concordou com eles neste caso, e ele assim o fez. E todas as famílias do conselho constituíram cerca de seiscentos mil homens, e eles foram buscar um extenso pedaço de terra para construir a cidade e a torre, e eles procuraram em toda a terra e não acharam nenhuma como o vale no leste da terra de Sinar; caminharam cerca de dois dias, e eles viajaram e habitaram ali. E começaram a fazer tijolos e queimar fogos para construir a cidade e a torre que eles tinham imaginado concluída. E a construção da torre foi-lhes uma transgressão e um pecado, e eles começaram a construí-la, e enquanto eles estavam construindo contra o Senhor Deus do Céu, imaginaram em seus corações para a guerra contra Ele e para subir ao céu." (Jasher 9:20-25, tradução minha)
Nem é preciso dizer mais nada, o restante da história é bem conhecido e está registrado em Gênesis 11, onde se relata a subsequente confusão das línguas imposta por Deus a fim de parar este projeto infame da Torre de Babel. E a partir de tudo o que foi citado, o Estatismo em oposição ao Deus Criador já pode ser claramente entendido como um culto ao próprio Anticristo, como já havia sido antecipado num dos parágrafos anteriores deste artigo. E o que é mais perigoso e alarmante é o fato de que muitos cristãos estão sendo influenciados por ideologias de esquerda claramente estatizantes, e que no fim conduzem inexoravelmente ao Estatismo a que estamos nos referindo. O Pr. John Weaver faz uma crítica aos cristãos de seu país (EUA) que caberia muito bem no caso do Brasil (onde ele diz "estadismo", entende-se Estatismo no sentido que aqui demos à palavra, e isto pode ser visto na leitura da referência):
"Existe uma religião pró-estadismo neste país. Muitas vezes essa religião pró-estadismo desfila debaixo do guarda-chuva do Cristianismo. Nós nos esquecemos, negligenciamos e nos afastamos tanto da Palavra de Deus que na verdade não conhecemos, nem reconhecemos o Cristianismo bíblico. Sofremos tanta lavagem cerebral e recebemos tanta propaganda ao ponto de nem mesmo reconhecermos que o cidadão comum e o cristão professo comum são nada mais, nada menos, do que bons "pequenos militantes do estadismo". Professamos ser cristãos, expressamos um desejo de agir como cristãos, mas a verdade continua e nossas atitudes e ações traem nossa profissão de fé. Falamos uma coisa e vivemos outra. Professamos a verdade, mas vivemos uma mentira"[4].
Se alguém ainda tem dúvidas quanto à pretenção de se criar um governo mundial inspirado em Ninrode e na Torre de Babel, confira a imagem abaixo e leia a referência [6], além das que já citei.
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Em inglês: "Europa: muitas línguas, uma voz". Dispensa mais legendas... |
Acredito já estar claro que no fim de todo o Estatismo está a idolatria - cega ou não - à Ninrode, ao próprio Anticristo vindouro, e seu reino já está sendo preparado pelos seus seguidores, seja pelas vias políticas (ONU, UE, internacionais socialistas como o Foro de São Paulo, etc.) ou pelas vias religiosas (Carta da Terra, seitas ambientalistas). E ainda que haja entre os acadêmicos uma discordância irreconciliável sobre a veracidade dos fatos aqui mencionados, os mesmos são, no fundo, os inspiradores da maior parte das políticas ditas "humanitárias" e da existência de boa parte de órgãos internacionais. Resta agora saber: nos renderemos frente à gigantesca e monstruosa aparência do mal que nos cerca, nos confundiremos e nos perderemos no Estatismo ou procuraremos a Verdade, manifestada na Pessoa de Cristo ratificada por seus ensinamentos e obras? Agora e como sempre foi, a pergunta de Cristo aos seus discípulos é direta: "Quem vocês acham que eu Sou"? O Apóstolo Pedro respondeu corretamente, e a resposta está longe, muito longe do Estatismo.
Referências:
[1] "O Jardim das Aflições". Olavo de Carvalho. Disponível em: http://portalconservador.com/livros/Olavo-de-Carvalho-O-Jardim-das-Aflicoes.pdf
[2] "Poder Global e Religião Universal". Mons. Juan Claudio Sanahuja. Ed. Ecclesiae, 2012.
[3] "Contra o Cristianismo - A ONU e a União Européia como Nova Ideologia". Lucceta Scaraffia e Eugenia Rocella. Ed. Ecclesiae, 2014.
[4] "Estadismo - A Religião de Ninrode". Pr. John Weaver. Disponível em: http://www.espada.eti.br/estadismo.asp
[5] "A Maçonaria É Realmente Uma Religião?". Disponível em: http://www.espada.eti.br/n1144.asp
[6] "Lugares Sinistros: O Parlamento Europeu". Disponível em: http://midiailluminati.blogspot.com.br/2014/03/lugares-sinistros-o-parlamento-europeu.html
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