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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Divagações à coser sobre Nietzsche e seu Deus defunto.

Friederich Nietzsche
“’Todos os deuses morreram, o que queremos agora é que viva o Super-Humano’; um dia, em pleno meio-dia, esta será nossa vontade suprema”
— Assim falou Zaratustra.
Friederich Nietzsche é sem dúvidas, um dos maiores pensadores pessimistas dos quais o ocidente já dispôs. Não é por menos, uma vez que tenha se baseado em Arthur Schopenhauer. Entre seus maiores motes está: A morte de Deus. Que para ele nada mais é que um abandono moral. Segundo o filósofo alemão, a humanidade teria entrado em decadência existencial quando passou a racionalizar o mundo (filosofia grega) e mais tarde, quando o homem passou a ser sacralizado pela moral judaico-cristã, ferramenta suficiente para que o fizessem fraco, omitido, reprimido quanto à sua natureza apriorística.
Nascido em seio luterano, Nietzsche chegou a se encaminhar para ser pastor mas, tão logo abandonou seus estudos na área. Se dedicou a filologia, área relacionada com o estudo histórico de uma língua. No caso, se especializou no grego clássico, tendo entrado em contato com os escritores pré-socráticos e, provavelmente ali, encontrado a síntese máxima de sua obra em "A Gaia Ciência". Gaia, aqui, não se refere ao titã da mitologia mas à palavra "gaiato". O original, Die Fröhliche Wissenschaft, 1882, significado, ipsis litteris, a ciência feliz. Entretanto, sua primeira obra foi Die Geburt der Tragödie, Oder: Grichentum und Pessimus. O Nascimento da Tragédia, ou Helenismo e Pessimismo.
Como enunciado nas primeiras páginas de "Fides et Ratio", uma das mais notáveis encíclicas de João Paulo II, no dintel do Oráculo de Delfos estavam os dizeres "conhece-te a ti mesmo". Essa é, com efeito, uma das expressões nas quais repousam
 críticas laboriosas de Nietzsche. Representada na figura de Sócrates, a ideia de conhecer a si mesmo é um contraponto a contragosto em relação aos sofistas que buscavam os segredos do Cosmos (mundo em grego) em detrimento da busca interior. Esse rompimento à época, de tentar entender a si mesmo, foi de tão alto valor que se passou a chamar os filósofos dessa linha cosmológica de pré-socráticos justamente em referência a atitude de Sócrates.
A esse respeito, Nietzsche evoca que a aliança da filosofia grega, voltada para a busca interior, com o posterior cristianismo, voltado para a contemplação e aceitação da realidade, transformaram o homem pré-socrático (chamado por ele de Dionisíaco em relação ao deus das orgias e vinho) em um homem reprimido de suas inclinações, dócil e fragilizado (homem Apolíneo). É essa, inclusive, uma das maiores influências para que Freud teorizasse as pulsões sexuais segundo a sua psicanálise. Coisa que mais tarde Herbert Marcuse tentara utilizar como justificativa à revolução em Eros e Civilização.
A necessidade de ruptura, para Nietzsche, é um processo, passado pelo niilismo, no qual  a aceitação da não necessidade de um Deus, patrono, viria acompanhada de um sentimento de esvaziamento do ser. Tal pensamento é notório também em Feuerbach, contemporâneo de Marx do qual se extrai o conceito de alienação e de que Deus seria apenas uma projeção da fragilidade humana. A superação desse quadro de debilidade imediata se daria pelo übermensch (homem-acima, ou homem-superior) que, trocado a miúdos, tomaria o posto do Deus-fábula. Nietzsche faz, aliás, muitas referências ao extremo racionalismo, ao materialismo, ao atomismo, atributos da ciência à época. A tudo isso ele denominou "erro socrático".
A reflexão mais que aquém, faz com que uma leitura superficial faça crer que de fato Nietzsche, com sua ideia da morte de Deus está querendo denotar uma simples constatação psicossociológica dos avanços do ateísmo no mundo moderno. De fato, ele quis usar um termo de impacto para denotar a nulidade radical experimentada pela modernidade, numa crise mundial.
Sendo mais direto, o título de Deus está morto proclamado por seu Zaratustra (Assim Falava Zaratustra), nada mais é que uma espécie de abandono, tanto da moral judaico-cristã quanto desse racionalismo exacerbado. Tal fenômeno resulta no niilismo, que é o abismo do nada. Quão jus a ele seriam as palavras “— caem as mentiras de vários milênios e o homem fica sozinho e espantado, que há mais agora?” — temos então aí que Deus está morto.
Essa forma de filosofar estará, a posteriori, nas penas dos mais cotados existencialistas que, ao se indagar sobre o que é um mundo sem Deus, passam a reescrever a filosofia com base no vazio da razão de ser. Não que todos eles fossem pessimistas no estrito termo, o que não de fato procede. Essas indagações que, talvez começadas por Kierkegaard, formulariam a base orgânica para que Sartre, anos mais tarde, definisse, em termos de crítica à escolástica com tom de inversão, que a existência precede a essência. O resultado estrambótico e presenciado é a crise da modernidade, experimentada pela "esposa" do francês Jean que, seguindo a linha filosófica, deitou a caneta para que as mulheres, feministas stricto sensu, definissem a si o que quisessem ser. É isso, sem por nem tirar.

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