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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Introdução sobre o pensamento de Kant e a crise da modernidade

             

             

                Kant nasceu em 1724 na cidade de Königsberg, Alemanha, de onde nunca saiu, tendo vivido nesse local até sua morte. O filósofo foi fortemente influenciado pelo pietismo durante sua infância. Todos bem sabem que após a Reforma Protestante o luteranismo se tornou a forma dominante de cristianismo na Alemanha. Mais tarde, houve um desmembramento desse grupo. Um dos resultados foi o movimento petista. Conquanto seja interessante, não cabe aqui uma dissecção precisa sobre o pietismo. É preferível que, se necessário, tal assunto seja tratado especificamente na área de teologia do blog. O que importa, para nossos fins, é que essa visão priorizava a autonomia da consciência ou a piedade particular em detrimento de dogmas. O período pré-crítico (até 1770) de Kant possui certo eco dessa peculiaridade.
                Como se trata de uma introdução, vamos logo ao que interessa. Comecemos por declarar que, a provável crise das ciências (que culminaram em positivismo) somadas à crise da modernidade (pós-modernismo) possuem forte ligação com o kantismo. Vale dizer, por exemplo, que a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo possui respaldo na Crítica de Kant. Essas coisas, que parecem bem isoladas, estão um tanto quanto justificadas no que será explicado hoje.
                 Ao declarar um verdadeiro cisma entre experiência e metafísica, o filósofo nada mais fez que guilhotinar a essência da dúvida. Kant, simplesmente por não aceitá-la em relação a algumas questões principalmente metafísicas, resolveu romper e conjecturar que, se não se pode saber a parte, não se pode saber o todo. Sobre isso, declarou Mario Ferreira dos Santos: a ignorância sobre as coisas [mistério] é algo constitutivo da própria natureza da realidade.  Há, nesse sentido e, mais especificamente pela teologia, uma grande similaridade do pensamento de Kant com a via apofática, uma forma de pensamento fundamentado na negação. Coisa que se assemelha a Guilherme de Ockham, pensador medieval que já vi ser distribuído em rodas de neoateus. Há uma grande tendência de teólogos liberais assimilarem a via apofática por mestre Eckhart (frade dominicano medieval e místico) com a filosofia de Heiddeger (existencialista). Daí para a revolução é um pequeno salto.
É curioso dizer que, a via apofática foi influenciada grandemente pelo místico Dionísio Areopagita cujo pensamento repercutiu até mesmo sobre São Tomás de Aquino, escolástico e doutor da Igreja que (em muito!) se distancia do pensamento de Kant. O reconhecimento de que a realidade não pode ser completamente conhecida não é primazia de niilistas, existencialistas, Heráclitos ou Sartres. Aquino chegava a declarar que “não se é possível conhecer completamente nem mesmo a essência de uma mosca”. Daí para se dizer que não é possível conhecer nada sobre algo, como diria Kant, são outros quinhentos. E foi exatamente isso que ele fez. "Como não se poderia conhecer tudo sobre a metafísica, não se pode conhecer nada dela." Como não se poderia conhecer a realidade completa sobre Deus, não se pode saber nada Dele. Essa injeção de ceticismo no kantismo é uma grande influência, no Kant mais velho, dos empiristas (Locke e Hume), cujos pensamentos simbolizam que “a única coisa cognoscível é a experiência”. Fica fácil, a partir daí, entender como as coisas se transmutaram depois não é?
Entre miríades de extravagâncias, esse foi o cimento para que os futuros marxistas, behavioristas, psicanalistas, positivistas, cientificistas, neoateus... Brigassem entre si para definir de fato o que é a “realidade”. Pois, como a estrutura dela está intrinsecamente ligada a metafísica e, essa por sinal seria, digamos, "rejeitável", fica a dúvida sobre  "o que pode ser Deus já que ele está morto". Do primeiro para o último, define-se a realidade como: Ou sendo ela uma luta de classes (Marx), ou um mecanismo de feed-back positivo/negativo (Pavlov et al.), ou uma constante luta entre Id e Superego (Freud), ou o próprio método empírico (cientificistas). Tudo nessa ordem. 
Está aí um dos maiores retratos do que se pode chamar de "crise da modernidade". Talvez, neste momento, o leitor esteja a conjecturar qual a relação entre Kant e coisas como o casamento gay. Bom, ao se desmembrar, em Kant, o que se infere por essências, se guilhotina a noção de realidade como processo nem sempre exaurível. Soma-se a isso a própria identidade metafísica dos princípios que regem o comportamento, a natureza, a ciência, a religião etc. A extensa crítica “racionalizante” desde fins da escolástica até o pós-modernismo trouxeram, a azedo contragosto, um homem que não se reconhece nem mesmo a si. Na tentativa de suprir a morte de Deus (ler texto sobre Nietzsche) tardia, o problema das sociedades, os problemas de realidade, econômicos e de história, criou-se, ao longo dos séculos, uma sem fim quantidade de teorias sobre o todo. Décadas de discussão sobre onda e partícula não foram suficientes para trazer toda a mecânica clássica à física quântica tampouco o inverso. Nesse sentido, a última da tchurma, que eu pelo menos tenha evidenciado, é a declaração de que creatio ex nihilo (criação a partir do nada) é completamente aceitável (falácia mais velha que a falecida Dercy) visto a existência de um fenômeno conhecido como flutuações quânticas. Fica aí de curiosidade ao leitor decifrar esse emplastro Brás Cubas.
              De volta da terra do nunca, restou apenas uma pergunta peremptória: onde esses caras vão parar? A reposta à essa retórica: quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre! Banzai!

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