No meu último artigo
me referi a um fenômeno que costumo chamar de “estelionato linguístico”,
assunto que será abordado no texto de hoje. Para compreender de modo
satisfatório porque a expressão foi utilizada analisaremos a expressão por meio
de três perguntas principais: o que é estelionato linguístico? Como ele se dá?
Quais as suas implicações? E o Brasil com isso?
A expressão é de
fato bem intuitiva. Nada mais nada menos do que uma espécie de falsidade
ideológica dentro da linguagem. Basicamente, trocar gato por lebre. O fenômeno
é recorrente na política principalmente por conta do seu poder perante as
massas desatentas e incultas e, no Brasil, virou regra geral tanto na atmosfera
política quanto na intelectual. Trocam-se as palavras, mas fica-se o significado,
com o intuito de dar um aspecto mais “bonito” e menos ofensivo, ou às vezes até
mesmo inverter completamente o significado da palavra, para que o interlocutor comece a aceitá-la pela sua “beleza” (será abordado mais a frente no texto) e
não pela realidade mesma que ela representa. Substituir “censura” por “controle
social da imprensa” é só um exemplo corriqueiro disso. Schopenhauer já dizia
que podemos analisar uma nação pela sua língua e literatura, e que o primeiro
sinal da decadência daquela se daria justamente nesta¹. Aos ouvidos comuns isso
soa estranho, afinal, que tem a ver a literatura e a língua de um país com a
realidade político-econômica-social-etc?
No entanto, é
uma das grandes verdades que nos ajudariam a compreender a situação atual de
Banânia à luz de seu passado recente. A perda do significado das palavras,
principalmente por meio do uso corriqueiro de palavras vazias (que podem
significar tanto uma coisa quanto o seu contrário²) é um grande símbolo desse
tipo de falsidade ideológica, expressões e palavras essas que não trazem a
mente do interlocutor uma realidade ou experiência, mas apenas emoções. No
momento em que o indivíduo coloca o adjetivo “social” junto a uma palavra, por
exemplo, passa a ser possível prever aonde ele quer chegar. Social >
sociedade > bem para a sociedade > coisa boa, portanto se tem
"social" como adjetivo, deve ser coisa boa³. Note que nesse caso o
termo usado despertará emoções aprovativas e eufóricas.
Essa é a
associação feita, e é feita justamente para ludibriar a população, pois ela
encobre a realidade objetiva por trás da expressão, mas faz com que quem a ouça
a aprove por meio de jogos de linguagem, sendo esta quase sempre significando o
oposto da proposta (“justiça social” na verdade é “injustiça social” se
pararmos para analisar de fato³). Porém, como dizia Hugo Von Hofmannsthal:
"Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua
literatura", o que significa que o discurso político é que uma extensão e
reflexo da literatura e, portanto, podemos concluir com segurança, que os
responsáveis pela situação política de um país são, queiram eles ou não, os
“intelectuais”, as “classes falantes”. A partir do momento em que esses sujeitos
resolvem prostituir a cultura (nesse caso principalmente a alta cultura) de um
país ao nível de mera propaganda política (que é a essência mesma da proposta
gramscista4), inicia-se uma confusão mental, pois o objetivo deixa
de ser compreender a realidade e expressar suas impressões sobre ela, mas
transformá-la (Marx que o diga). Ao invés de interpretar esse texto pelo que
ele é você começa a interpretá-lo pelo que o projeto político quer que ele
seja. Aplique isso às diversas esferas da atividade humana, e pronto: está
feita a perda da percepção da realidade, a perda do senso das proporções e a
perda do senso moral. Daí para a atmosfera de loucura generalizada é apenas um
passo.
A situação
inteira caminha fatalmente para o mais criminoso e perverso empreendimento
intelectual de todos: a destruição da inteligência. O processo todo se dá desde
a infância e adolescência e vai até a maturidade. Esse pequeno detalhe e o fato
de que as escolas, as igrejas, a grande mídia e as universidades brasileiras
foram todas ocupadas pelos socialistas gramscianos desde meados da década de 60
não é mera coincidência. A estratégia é impossível sem a “ocupação de espaços”.
A transformação da cultura para conquistar a hegemonia (para então partir para
a "tomada ostensiva do poder") não se dá sem a completa mudança de
todo o “senso comum”, e como não existe ação sem agente, não se pode esquecer o
agente principal de todo o processo, aquele que compõe o novo exército
revolucionário que será usado nesse gigantesco e diabólico empreendimento: o
“intelectual orgânico”4. Fazer do Partido uma “autoridade
onipresente e invisível”, cujas vontades são como “imperativos categóricos,
mandamentos divinos” é o objetivo último da propaganda comunista de acordo com
(Santo) Antônio Gramsci4.
De todos os
locais ocupados, afirmo que o mais importante e decisivo de todos é sem dúvida
nenhuma a grande mídia. Aristóteles, 2000 anos atrás, já deixou subentendido em
seu tratado de retórica5 que quem controla o fluxo de informações
estabelece o debate público. As informações e os dados sobre a realidade são a
base dos pressupostos admitidos em todas as discussões e aquilo que não esta
“em grande circulação” e não é do conhecimento de todos não possui
credibilidade no discurso e, portanto, não tem poder de persuasão6.
Não é preciso fazer propaganda esquerdista ostensiva para fazer nada disso, a
única coisa que precisa ser feita é esconder tudo o que possa ser nocivo aos
objetivos do movimento comunista e revelar tudo de ruim sobre os adversários7,
omitindo qualquer boa atitude que venha deles.
Some isso à
difamação, calúnia, mentira e também a ocultação desses acontecimentos,
acusando simultaneamente aquele que denunciar toda a situação de ser um
“conspirador malvado” a serviço dos “poderes opressores” (uma espécie de
dissimulação da dissimulação8) e temos então a fórmula do sucesso
revolucionário comunista. Qualquer semelhança entre tudo o que foi aqui
abordado e o modus operandi da esquerda brasileira é mera coincidência. Mas aí
nesse caso um denunciador não teria elaborado uma “teoria da conspiração”, mas
uma “teoria das coincidências”.
1- A arte de
escrever, Arthur Schopenhauer, LP&M
2- P. 193-195 ,
O caminho da servidão, F. A. Hayek, Vide Editorial
3- Para mais
detalhes, ver O
mal é o que sai da boca do intelectual de esquerda, por Alceu Garcia.
4- Ver A nova era
e a revolução cultural, Olavo de Carvalho, Vide Editorial; mais específicamente
Santo Antônio
Gramsci e a salvação do Brasil.
5- P. 45-49, Retórica, Aristóteles, Edipro
6- Ver págs. 68-82,
Aristóteles em nova perspectiva: Introdução a teoria dos quatro discursos,
Olavo de Carvalho, Vide Editorial
7- Para maiores
informações e detalhes ver p. 57-61, “O eixo do mal latino-americano e a nova
ordem mundial”.
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