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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Estelionato linguístico: a linguagem a serviço da revolução


No meu último artigo me referi a um fenômeno que costumo chamar de “estelionato linguístico”, assunto que será abordado no texto de hoje. Para compreender de modo satisfatório porque a expressão foi utilizada analisaremos a expressão por meio de três perguntas principais: o que é estelionato linguístico? Como ele se dá? Quais as suas implicações? E o Brasil com isso?
A expressão é de fato bem intuitiva. Nada mais nada menos do que uma espécie de falsidade ideológica dentro da linguagem. Basicamente, trocar gato por lebre. O fenômeno é recorrente na política principalmente por conta do seu poder perante as massas desatentas e incultas e, no Brasil, virou regra geral tanto na atmosfera política quanto na intelectual. Trocam-se as palavras, mas fica-se o significado, com o intuito de dar um aspecto mais “bonito” e menos ofensivo, ou às vezes até mesmo inverter completamente o significado da palavra, para que o interlocutor comece a aceitá-la pela sua “beleza” (será abordado mais a frente no texto) e não pela realidade mesma que ela representa. Substituir “censura” por “controle social da imprensa” é só um exemplo corriqueiro disso. Schopenhauer já dizia que podemos analisar uma nação pela sua língua e literatura, e que o primeiro sinal da decadência daquela se daria justamente nesta¹. Aos ouvidos comuns isso soa estranho, afinal, que tem a ver a literatura e a língua de um país com a realidade político-econômica-social-etc?
No entanto, é uma das grandes verdades que nos ajudariam a compreender a situação atual de Banânia à luz de seu passado recente. A perda do significado das palavras, principalmente por meio do uso corriqueiro de palavras vazias (que podem significar tanto uma coisa quanto o seu contrário²) é um grande símbolo desse tipo de falsidade ideológica, expressões e palavras essas que não trazem a mente do interlocutor uma realidade ou experiência, mas apenas emoções. No momento em que o indivíduo coloca o adjetivo “social” junto a uma palavra, por exemplo, passa a ser possível prever aonde ele quer chegar. Social > sociedade > bem para a sociedade > coisa boa, portanto se tem "social" como adjetivo, deve ser coisa boa³. Note que nesse caso o termo usado despertará emoções aprovativas e eufóricas.
Essa é a associação feita, e é feita justamente para ludibriar a população, pois ela encobre a realidade objetiva por trás da expressão, mas faz com que quem a ouça a aprove por meio de jogos de linguagem, sendo esta quase sempre significando o oposto da proposta (“justiça social” na verdade é “injustiça social” se pararmos para analisar de fato³). Porém, como dizia Hugo Von Hofmannsthal: "Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura", o que significa que o discurso político é que uma extensão e reflexo da literatura e, portanto, podemos concluir com segurança, que os responsáveis pela situação política de um país são, queiram eles ou não, os “intelectuais”, as “classes falantes”. A partir do momento em que esses sujeitos resolvem prostituir a cultura (nesse caso principalmente a alta cultura) de um país ao nível de mera propaganda política (que é a essência mesma da proposta gramscista4), inicia-se uma confusão mental, pois o objetivo deixa de ser compreender a realidade e expressar suas impressões sobre ela, mas transformá-la (Marx que o diga). Ao invés de interpretar esse texto pelo que ele é você começa a interpretá-lo pelo que o projeto político quer que ele seja. Aplique isso às diversas esferas da atividade humana, e pronto: está feita a perda da percepção da realidade, a perda do senso das proporções e a perda do senso moral. Daí para a atmosfera de loucura generalizada é apenas um passo.
A situação inteira caminha fatalmente para o mais criminoso e perverso empreendimento intelectual de todos: a destruição da inteligência. O processo todo se dá desde a infância e adolescência e vai até a maturidade. Esse pequeno detalhe e o fato de que as escolas, as igrejas, a grande mídia e as universidades brasileiras foram todas ocupadas pelos socialistas gramscianos desde meados da década de 60 não é mera coincidência. A estratégia é impossível sem a “ocupação de espaços”. A transformação da cultura para conquistar a hegemonia (para então partir para a "tomada ostensiva do poder") não se dá sem a completa mudança de todo o “senso comum”, e como não existe ação sem agente, não se pode esquecer o agente principal de todo o processo, aquele que compõe o novo exército revolucionário que será usado nesse gigantesco e diabólico empreendimento: o “intelectual orgânico”4. Fazer do Partido uma “autoridade onipresente e invisível”, cujas vontades são como “imperativos categóricos, mandamentos divinos” é o objetivo último da propaganda comunista de acordo com (Santo) Antônio Gramsci4.
De todos os locais ocupados, afirmo que o mais importante e decisivo de todos é sem dúvida nenhuma a grande mídia. Aristóteles, 2000 anos atrás, já deixou subentendido em seu tratado de retórica5 que quem controla o fluxo de informações estabelece o debate público. As informações e os dados sobre a realidade são a base dos pressupostos admitidos em todas as discussões e aquilo que não esta “em grande circulação” e não é do conhecimento de todos não possui credibilidade no discurso e, portanto, não tem poder de persuasão6. Não é preciso fazer propaganda esquerdista ostensiva para fazer nada disso, a única coisa que precisa ser feita é esconder tudo o que possa ser nocivo aos objetivos do movimento comunista e revelar tudo de ruim sobre os adversários7, omitindo qualquer boa atitude que venha deles.
Some isso à difamação, calúnia, mentira e também a ocultação desses acontecimentos, acusando simultaneamente aquele que denunciar toda a situação de ser um “conspirador malvado” a serviço dos “poderes opressores” (uma espécie de dissimulação da dissimulação8) e temos então a fórmula do sucesso revolucionário comunista. Qualquer semelhança entre tudo o que foi aqui abordado e o modus operandi da esquerda brasileira é mera coincidência. Mas aí nesse caso um denunciador não teria elaborado uma “teoria da conspiração”, mas uma “teoria das coincidências”.

1- A arte de escrever, Arthur Schopenhauer, LP&M
2- P. 193-195 , O caminho da servidão, F. A. Hayek, Vide Editorial
4- Ver A nova era e a revolução cultural, Olavo de Carvalho, Vide Editorial; mais específicamente Santo Antônio Gramsci e a salvação do Brasil.
5- P. 45-49, Retórica, Aristóteles, Edipro 
6- Ver págs. 68-82, Aristóteles em nova perspectiva: Introdução a teoria dos quatro discursos, Olavo de Carvalho, Vide Editorial
7- Para maiores informações e detalhes ver p. 57-61, “O eixo do mal latino-americano e a nova ordem mundial”.

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