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Eis o resultado da colonização "ambiental" das mentes e dos espíritos dos cristãos |
Já se passaram algumas décadas desde que o mundo - em especial o hemisfério ocidental - começou a ser alertado sobre os perigos decorridos do mal uso dos recursos naturais pelo homem moderno.
Desde então, a chamada "causa ambiental" (ou "causa ambientalista") cresceu, ganhou as proporções planetárias pretendidas inicialmente e foi elevada à status de assunto obrigatório na maioria dos debates políticos (talvez todos) e dos circulos intelectuais mundo afora. Além disso a causa ambiental passou a ser critério influente e decisivo na competitividade das empresas de um modo geral, que devem sempre zelar pelo "desenvolvimento sustentável", do contrário sofrem severas sanções ou punições. O meio artístico também não escapou ileso do "boom" ambientalista e filmes como "Na Natureza Selvagem" de Sean Penn, ou o aclamado "Avatar" de James Cameron são apenas dois exemplos da devoção hollywoodiana à "causa".
Não há dúvidas de que a preservação e a utilização prudente dos recursos naturais são imperativos a serem observados sempre. Nenhum ser humano com um pingo de bom senso (pelo menos os que conheço) argumentaria em contrário. Mas se engana completamente quem pensa que o afã atual pela preservação do planeta seja um expontâneo despertar de lucidez que de repente aplacou toda a população mundial.
Um documento em especial serve para mostrar o quanto tal "comoção" e as campanhas ambientalistas são, pelo menos no meio de seus financiadores e principais divulgadores, dissimulada. Trata-se da chamada Carta da Terra, incorporada pela UNESCO em 2003, mas que começou a ser idealizada no início dos anos 90 por duas organizações, o Conselho da Terra e a Cruz Verde Internacional. Esta última é chefiada por ninguém menos que ex-líder da extinta União Soviétita Mikhail Gorbachev, que em 1997 fez uma declaração que não deixa à ninguém dúvidas sobre as reais intenções contidas no documento, nem deixa dúvidas quanto aos métodos que pretendem usar pôr em prática seu conteúdo:
"O mecanismo que usaremos será a substituição dos Dez Mandamentos pelos princípios contidos na presente Carta ou Constituição da Terra"[1].
Se você não acreditou, pode ler de novo, de novo e de novo...
O prefácio da Carta deixa explícito quais são os princípios que a norteiam (o grifo é meu):
"A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva como uma comunidade de uma vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exisgente e incerta, mas a Terra proveu as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de resistência da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação da biosfera saudável, com todos os seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global, com seus recursos finitos, é uma preocupação comum à todos os povos. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado"[1].
Qualquer cristão bem avisado já pôde sentir em suas narinas o cheiro de enxofre exalado pelo conteúdo panteísta do trecho acima. Caso alguém ainda não tenha percebido tal conteúdo, o mesmo é endossado e confirmado pelo discurso de Leonardo Boff, militante ambientalista e ex-frade franciscano, proferido diante da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 22 de abril de 2009 (os grifos são meus):
"Desde a mais alta ancestralidade, as culturas e religiões sempre têm testemunhado a crença na Terra como Grande Mãe, Magna Mater, Inana e Pachamama. Os povos originários de ontem e de hoje tinham e têm clara consciência de que a Terra é geradora de todos os viventes. Somente um ser vivo pode produzir vida em suas mais diferentes formas. A Terra é, pois, nossa Mãe Universal [...] Não é que sobre a Terra haja vida. A Terra é mesma viva, chamada de Gaia, a deusa grega para significar a Terra viva. Efetivamente, a Terra é Mãe fecunda [...] Para esta tarefa figantesca somos inspirados por um documento precioso: a Carta da Terra. Nasceu da sociedade civil mundial. Em sua elaboração foram envolvidas mais de cem mil pessoas de 46 países. Em 2003 uma resolução da UNESCO apresentou-na como um instrumento educativo e uma referência ética para o desenvolvimento sustentável. Participaram ativamente de sua concepção Mikhail Gorbachev, Maurice Strong, Steven Rockfeller e eu mesmo, entre outros. A Carta entende a Terra como dotada de vida e como nosso Lar Comum. Apresenta pautas concretas que podem salvá-la, cuidando-a com compreensão, com compaixão e com amor, como cabe a toda mãe. Oxalá, um dia, esta Carta da Terra possa ser apresentada, discutida e enriquecida por esta Assembléia geral. Caso seja aprovada, teríamos um documento oficial sobre a dignidade da Terra [...]"[1]
Acredito ter ficado claro nas citações e nos grifos destacados qual é a intenção norteadora dos idealizadores da Carta: estabelecer uma religião global fundamentada no culto universal à Terra, suplantando (como diria Hans Küng) principalmente as religiões ditas "tradicionais" e "fundamentalistas", que apenas ferem a "Grande Mãe". E para quê tal objetivo é estabelecido? Para a legitimação da implantação de um Governo Mundial, a restauração do antigo sonho de Nimrode malogrado pela confusão das línguas imposta por Deus, Javé (YHWH), dificuldade que os apóstolos da "Terra" agora querem superar com a "bênção" de uma outra divindade, Gaia. Só assim, acreditam, alcançarão a "paz mundial".
Caso isso ainda soe como um absurdo, deixo aqui outra fala de Leonardo Boff, para suplantar todas as dúvidas residuais:
"As religiões abraâmicas são as mais violentas, porque acreditam ser portadoras da verdade, como o Papa em Ratisbona. O que é necessário é a espiritualidade, não os credos e as doutrinas"[1].
Para quem já pesquisou sobre a ONU e as doutrinas que motivaram sua fundação, entre as quais a Teosofia de Blavatski, nada disso soa estranho. A substituição das religiões tradicionais, em especial o Cristianismo, por uma religião global que cultua a "Terra" é um objetivo importante na implantação de um governo mundial porque os tais "apóstolos" sabem muito bem que são os aspectos religiosos que dão sentido à vida das pessoas em todos os seus questionamentos e dúvidas, sejam materiais, espirituais e também psicológicos. Eles sabem que não há civilização sem um mito fundador, e que sem ele, qualquer tentativa de criá-la resulta no aparecimento de leviatãs bestiais e sanguinários como o Nazismo e o Comunismo. Um mito fundador, nas palavras de Olavo de Carvalho[2], "não é uma ideologia", não é "um discurso que não compreende a realidade, mas motiva os homens a substituir uma realidade que compreendemos mal por outra da qual não vão compreender nunca". Um mito fundador "é uma verdade inicial compactada que, no desenrolar da história, vai desdobrando o seu sentido e florescendo sob a forma de ciência, de leis, de valores, de civilização", e "constitui-se, em geral, da narrativa simbólica de fatos que efetivamente sucederam, fatos tão essenciais e significativos que acabam por transferir parte do seu padrão de significado para todo o que venha a acontecer em seguida numa determinada área civilizacional". O filósofo ainda completa dizendo que "os esquemas narrativos da literatura superior são os padrões de autocompreensão imaginativa de uma civilização. E os padrões de autocompreensão imaginativa são, por sua vez, os esquemas de ação possíveis". Ou seja, o mito fundador está tanto no fundo de toda a compreensão que uma civilização tem de si mesma quanto de todas as suas possibilidades de ação. Vale lembrar também que os grandes impérios mundiais da antiguidade sempre buscaram a unidade religiosa, utilizando-a como um fator de coesão civilizacional. Para citar exemplos, no Império Romano existia o mito fundador de Rômulo e Remo, e a civilização ocidental tem a Bíblia como mito fundador.
Exatamente por ser a Bíblia o mito fundador do ocidente é que os "apóstolos" de Gaia querem substituí-lo, pois sabem que não há no Cristianismo lugar para o culto à natureza. O Cristianismo é a religião oriunda dos ensinamentos de Cristo, e crê fundamentalmente que Ele é o Deus encarnado, o Logos manifestado em carne, o "verbo vivo", do qual deriva toda a realidade universal física e espiritual. Crê que estamos "dentro" de Deus. Como diria Paulo, "nEle vivemos, nos movemos e existimos". O Deus que é ao mesmo tempo transcendente e imanente não pode ser substituído por absolutamente nada. Isso fica claro, por exemplo, na carta do apóstolo Paulo aos Romanos, quando referindo-se aos cidadãos daquela cidade, diz que
"os atributos invisíveis de Deus, assim como seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Incultando-se por sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis [...] pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém." (Romanos 1:20-23 e 25; o grifo é meu).
No antigo testamento, Isaías profetizou que "Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não darei à outrem" (Isaías 42:8). Ambas as citações são obtidas da tradução Almeida Revista e Atualizada da Bíblia.
Tendo ciência disso, se firma como imperativa aos "apóstolos da Terra" a tarefa de destruir o Cristianismo, ou então de esvaziarem-no de todo o seu conteúdo. Parece que optaram pela segunda opção, pois perceberam que a primeira é um mero corolário dela. Para cumprir tal tarefa, entretanto, não partem para o confronto direto, mas valem-se de vários sortilégios e estratagemas, dentre os quais o principal é subverter a linguagem cristã. Alterando (por meio de técnicas de transformação semântica que lembram a construção da novilíngua orwelliana) o sentido de palavras como "amor", "perdão", "união" e "fraternidade" retirando delas o valor e o sentido que lhes foi conferido pela própria experiência da vida de Cristo e da história de seus seguidores, impingem-nas significados vazios com pretenso sentido ético. O resultado disso é nefasto: doutrinas de profundo significado espiritual passam a ser identificadas com um moralismo político oco, com algum valor prático mas sem nenhum valor espiritual.
A partir daí, a colonização de mentes - e consequentemente de espíritos - se torna fácil, e a transformação de cristãos em meros zumbis políticos à serviço da nova ética e propagadores da nova religião se torna mera questão de tempo. A denominação "zumbis" não é por acaso. Estes, na ficção, são amontoados mortos de células que, embora possuam cabeça, esta é desprovida do funcionamento do órgão que os permite alcançarem o nível mais profundo de humanidade e autoconhecimento, e daí buscam qualquer coisa viva (ainda que sob o invólucro de carne, ossos e sangue) que os alimente e os mantenha em pé, numa atração e esfomeamento que denota uma possível lembrança da vida realmente humana que um dia conheceram. No nosso caso, o cristão, o templo do Espírito Santo, quando desprovido dos dispositivos linguísticos que o permitam alcançar por meio da busca sincera e genuína e através de sua cognição e desse mesmo Espírito, seu nível mais humano e ao mesmo tempo mais transcedental, Cristo (a Cabeça da Igreja), transfiguram-se em meros autômatos espirituais, que ao menor sinal de vida plena, expresso ainda que por palavras já esvaziadas de conteúdo, e num lampejo de lembrança da luz que um dia conheceram, apressam-se esfomeadamente a defender qualquer coisa que esteja sob o rótulo de tais palavras, a fim de saciarem seus espíritos semi-mortos. Assim surgem as "Marias do Rosário" ou mesmo os "Hans Küng" da vida, que alegando e acreditando serem cristãos autênticos, defendem qualquer baboseira em nome do "amor", do "perdão", da "união" e da "fraternidade", ainda que em detrimento do Cristianismo que julgam representar. Se autoproclamando detentores e propagadores do verdadeiro evangelho, fazem questão de associarem a si mesmos, de forma raivosa e canina, qualquer coisa que esteja associada à vida plena em Cristo. Já sem vida espiritual, devoram a espiritualidade alheia. Daí a defenderem regimes tirânicos e totalitários desprovido de qualquer valor moral ou espiritual transcendente é um mero pulo.
Eis o belíssimo "paraíso" que os apóstolos da "Terra" prometem e vários cristãos - mesmo de forma subconsciente - estão desejando: um mundo rosáceo, "amoroso", "unido", onde todos são iguais e ninguém pode sequer querer ser diferente, sob pena de ser taxado como um "fundamentalista" nojento e insuportável. Um mundo onde a "Terra" está viva e o ser humano está morto, e não passa de um boneco de barro solto por aí, que em algum momento da "evolução" e por um mero capricho de Gaia se tornou de carne e osso, e deve ser descartado tão logo esta perceba que o tal não lhe serve, ainda que sequer tenha saído do útero que o gera. Eis a "Magna Mater", a gentil mãe, cujo ventre é o gerador universal dos mortos-vivos.
Referências:
[1] "Poder Global e Religião Universal". Mons. Juan Claudio Sanahuja. Ed. Ecclesiae, 2012.
[2] "O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota". Olavo de Carvalho. Ed. Record, 2013; 8ª edição.
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