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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

György Lukács, ou "não é possível ser humano na sociedade burguesa".



Boa parte dos pensadores da Nova Esquerda são da década de 1980 ou próximos dela, como Sartre, Foucault e Deleuze. Entretando, alguns protagonistas estão inseridos nos primeiros momentos anteriores à Segunda Guerra. Ou seja, época em que a URSS ainda se consolidava pelos espólios e pelo autoritarismo stalinista. Entre esses artífices cabe especial importância Antonio Gamsci, na Itália, e György Lukács, na Hungria. Hoje falaremos de Lukács.

A Hungria é um país situado na planície da Panônia (bácia Cárpata), na Europa Central. A história desse país, ligada ao catolicismo e tendo como seu unificador um rei e santo (São Estêvão da Hungria), no ano 1000, muito contradiz a imagem caótica de Budapeste durante o século XX. Em 1918, um político judeu e comunista de nome Béla Kun conseguiu instalar uma revolução bem sucedida (mas que durou pouco tempo), no país. Durante esse tempo, Lukács se tornou Comissário do Povo para Educação e Cultura. Em 1956 a URSS finalmente invadiu a Hungria e acabou com a "palhaçada". Daí até a dissolução completa foram longos e penosos anos para o Leste Europeu...

Lukács era membro da alta cultura austro-húngara. Amigo de escritores, músicos, pintores e filósofos da elite habsburga. Contudo, suas maiores intenções são um misto dessa herança com uma ânsia iconoclasta bolchevique. Logo abandonou o passado e quis dar novos ventos ao futuro. Aos dezoito anos, em 1903, teve a decisão de queimar todos os seus escritos literários, num gesto de ruptura e descontentamento. Não é a toa que Adrew Lobaczewisky, psiquiatra polonês dos tempos vermelhos, muito em bom tom afirma que esse tipo de atitude se assemelha com quadros de sociopatia. Um movimento incendiário elevado ao púlpito político e a loas revolucionárias.

Abandonando Strauss, Hofmannsthal, Hayek e Wittgenstein, seguiu Lukács sua pegada indomável sobre os magiares. Ele não estava sozinho, contudo. O sentimento de desapego e niilismo estava presente na sátira de Karl Krauss, no vampirismo de Schoenberg, na arquitetura de Loos e nos pensamentos de Kafka e Musil. Esse apurado conhecimento sobre a cultura foram a mistura ideal para destruí-la. Apesar das relações entre proletariado e cultura já estarem presentes na pena de Lênin, apenas uma pessoa da alta intelectualidade poderia colocá-la em prática. Está aí a grande importância de Lukács para a esquerda moderna e o porque de ele ser constantemente ovacionado.

Enquanto estudava na Universidade de Budapeste, Lukács entrou em contato com obras de Georges Sorel sobre sindicalismo revolucionário. Ele possuía, portanto, um cunho modernista e anti-positivista. Mais tarde, se encontraria com George Simmel, Ernst Bloch, Max Weber e Stefan George. Lukács, nesse período, também participou de um grupo teatral (Thalia Gessellschaft) que produziu algumas dramaturgias.

Assim como muitos bolcheviques, Lukács era bem abastado. Seu pai, banqueiro judeu enobrecido pelo imperador, conseguiu isenção do serviço militar durante a Primeira Guerra. A leitura de George Sorel trouxe a Lukács um extremo senso de rebeldia e violência, coisa que seria frequentemente utilizada para o terror revolucionário. Filiou-se, finalmente, ao partido comunista em 1918, ano do Regime de Béla Kun. À época, como responsável pela educação, iniciou a demissão de todos os professores não comunistas das universidades húngaras. Santo Estêvão deveria estar se revirando no túmulo ao momento.

Abandonando a dramaturgia e se dedicando mais a literatura, em 1923 Lukács escreve História e Consciência de Classe. A partir daí, vem seu apotegma "não é possível ser humano na sociedade burguesa". De tal forma que, estaria justificada a utilização da perversidade: "a ética comunista toma como seu dever maior a aceitação da necessidade de agir perversamente". A lei, nesse sentido, não teria qualquer validade maior que outro aspecto da política: a questão da legalidade e da ilegalidade resume-se [...] para o Partido Comunista a uma mera questão de tática". Está bem claro, para o leitor, a perversidade da política nacional. O Mensalão, Petrolão e outras táticas para se comprar o Congresso. De que vale, pois, a legalidade? Além de ser um processo político. A ideia de Reforma Constituinte, entoada bovinamente por todos os coletivos negros, UNE, UJC, psolistas, petistas e outras aberrações nada passa de um mal caratismo aos olhos não vermelhos. Porque, à luz da causa "anti-fascista", não se pode nem sequer ser humano na "sociedade burguesa". A ideia de legislar sobre o que é ser humano é uma das práticas mais comuns na esquerda, de forma que, Stálin, se utilizando da ideia, justificou que suas mortes eram necessárias à revolução. Já que quem está "alienado", não é, mesmo, humano.

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