Cluster One - Pink Floyd

sábado, 31 de janeiro de 2015

O "risco Syriza"

(Fonte da imagem: G1)
Texto originalmente publicado no Minuto Produtivo no dia 28/01/2015.

No último domingo (25/01), a Grécia (bem como a Europa) teve a maior reviravolta política de sua história republicana. Após quatro décadas de alternância entre o Nova Democracia, partido de centro-direita, e o Pasok, partido de centro-esquerda, Alexis Tsipras, da Syriza (extrema-esquerda), chega ao poder após uma vitória avassaladora de seu partido. Para muitos analistas, tal giro foi a resposta da população grega às medidas de austeridade implementadas após a crise financeira deflagrada em 2010 (resultante da crise de 2008 nos EUA). O PIB do país reduziu em um quarto deste então, o desemprego atingiu uma proporção semelhante (entre os jovens chega a 60%) e a já elevada dívida pública do país, que já estava em patamares muito elevados para os padrões europeus, disparou. Tese essa que concordo, apesar de que tal explicação oculta as verdadeiras causas da catástrofe econômica (e social) que atingiu o país que foi berço da democracia no Ocidente.

É óbvio que esta vitória foi motivo de festa dentro e fora da Europa. Na Espanha, outro país duramente afetado pela crise, Pablo Iglesias, do Podemos (outro partido de extrema-esquerda, que está liderando as pesquisas eleitorais), comemorou o resultado, dizendo que os gregos finalmente teriam um governo para eles, e não um delegado de Angela Merkel, atual chanceler da Alemanha (que bancou parte do plano de resgate do país helênico). No Brasil, a imprensa e principalmente as redes sociais repercutiram de forma positiva o fato, com alguns alegando que a vitória de Tsipras significava o fim do "neoliberalismo" e o retorno das políticas sociais, cortadas pelas medidas de austeridade. Porém, uma análise fria das propostas do novo primeiro-ministro, entre elas a elevação do salário mínimo, o calote perdão de metade da dívida pública e uma moratória da outra metade, que seria paga a partir do crescimento da economia e a expansão de benefícios sociais. Propostas essas que como explicarei mais tarde, podem levar a Grécia a um estado ainda pior se comparado ao atual.

Afinal de contas, foi o "neoliberalismo" que quebrou a Grécia?

O senso comum de muitos foi dizer que a Grécia quebrou devido ao "neoliberalismo" e ao "livre mercado", tese essa que desaba após uma breve pesquisa e análise dos fatos. Conforme muito bem compilado em um artigo no Instituto Mises Brasil, o que levou o país helênico a ficar de pirex na mão para a União Europeia e o FMI foram medidas que poderiam ser classificadas como qualquer coisa, menos como medidas "neoliberais". Em linhas básicas, as políticas expansionistas de gastos públicos adotadas pelo governo grego, seja o social-democrata Pasok, seja o conservador Nova Democracia (neste caso o conservadorismo se aplica aos aspectos sociais, não se assemelhando em nada ao fiscal conservatism defendido em países anglo-saxões, por exemplo), foram responsáveis pela tragédia econômica do país. Um exemplo disso foram os salários do funcionalismo público, que praticamente duplicaram entre 2000 e 2010. Outro exemplo foram os gastos para sediar os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

(Fonte da imagem: Estadão)
De forma a corroborar com as evidências apresentadas pelo artigo do Mises, trago alguns gráficos interessantes que ajudam a delinear o quanto o governo grego foi fiscalmente irresponsável nos anos que antecederam a hecatombe. Os primeiros, de gastos gerais, receitas gerais e a diferença entre ambos, seguem abaixo:

(Fonte da imagem: Acervo pessoal do editor, com dados da OCDE)

(Fonte da imagem: Acervo pessoal do editor, com dados da OCDE)

(Fonte da imagem: Acervo pessoal do editor, com dados da OCDE)

No primeiro gráfico (gastos gerais) a Grécia, exceto em 2005, figurou entre os três países que mais gastavam entre os selecionados (para efeito de referência, escolhi o grupo dos PIIGS - sigla em inglês que se refere à Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha e incluí a Alemanha, a maior economia da União Europeia), sendo que em 2008 e 2009 esteve como o mais gastador. Mas alguns podem argumentar: "Ah, mas a austera Alemanha chegou a gastar mais que a Grécia no período!". O lance, porém, é que os gastos governamentais alemães se mantiveram em patamares constantes, enquanto que na Grécia eles assumiram uma curva ascendente entre 2005 e 2009. Mas sozinho o gráfico não explica tudo.

Na sequência, o segundo gráfico compara as receitas gerais dos governos dos mesmos países do gráfico anterior. Como disse anteriormente, a Grécia figurava entre os três maiores gastadores, mas após 2002 deixou de estar entre os três maiores arrecadadores (entre 2004 e 2007 ficou na quinta posição). E enquanto os gastos gerais nunca ficaram abaixo dos 45% do PIB, as receitas nunca ficaram acima dos 45% do PIB. Portanto, o governo grego sempre gastou mais em relação à arrecadação.

Para corroborar com isso foi calculada a diferença entre a receita e os gastos, e fica mais evidente um dos fatores que levaram o país a uma situação falimentar: a exceção de 2001, 2005 e os dois últimos anos da série, o país helênico figura com o pior indicador entre os pesquisados. E se retirarmos a Itália da lista, que teve um valor negativo, porém constante, todos os demais dos PIIGS tiveram um grande tombo a partir de 2008.

Outro gráfico não menos importante para entender a depressão grega é o da poupança nacional. Tal como nos três primeiros, escolhi o mesmo grupo dos países dos três primeiros gráficos. Segue abaixo:

(Fonte da imagem: Acervo pessoal do editor, com dados do FMI)

A poupança nacional é um indicador importante, uma vez que mede a capacidade das empresas, das famílias e do governo para financiar investimento interno e investimentos externos líquidos. Percebe-se que salvo no período entre 2002 e 2005, a Grécia apresentou o pior indicador nesse aspecto. Em nenhum dos anos da série ela atingiu a marca de 20% do PIB e entre 2003 e 2011 ela sofreu sucessivas quedas, chegando a ficar em 6,2% do PIB em 2011. Mesmo com a alta nos anos seguintes a poupança nacional grega não atingiu os 15%. Altos gastos governamentais, baixas receitas e baixas taxas de poupança nacional acabam me levando a inferir que o governo do país helênico precisou financiar sua máquina recorrendo a empréstimos estrangeiros. Resumindo: o governo grego para se bancar queimou dinheiro...Dos outros.

Para finalizar a logorreia gráfica, segue abaixo o indicador do resultado dos gráficos anteriores: a dívida pública bruta.

(Fonte da imagem: acervo pessoal do editor, com dados do FMI)

Vejamos: gasto demais, arrecadação de menos, poupança nacional de menos...Qual a surpresa para a Grécia, por sinal uma das economias mais incipientes da União Europeia, estar como a mais endividada do bloco e uma das mais endividadas do mundo? Não custa lembrar que nesta série apenas a Itália conseguiu ser pior durante algum tempo (até 2005) que o país helênico.

O enigma do novo governo grego

(Fonte da imagem: The Guardian)

No tópico anterior, falei dos motivos que levaram a Grécia à catástrofe econômica que se encontra hoje, e, reiterando, não foi o "neoliberalismo" nem mesmo o "livre mercado" que quebrou aquele país (comparar as medidas econômicas tomadas por Konstantinos Simítis e Kóstas Karamanlis com as adotadas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher chega a ser ofensivo à inteligência de qualquer um). Apenas um adendo que esqueci de fazer no tópico anterior: Em se tratando de liberdade econômica (ver comparativo da Heritage Foundation aqui), a Grécia possui indicadores pífios nesse sentido, inclusive piores que os do Brasil nos últimos anos. 

Finalizado o adendo, o giro à esquerda feito pela Grécia, por piores que sejam as consequências imaginadas, era previsível. O que alguns não esperavam é que a aliança de governo de Tsipras seria com os Gregos Independentes (ANEL), um partido de direita nacionalista, cujo único ponto em comum com a ultraesquerdista Syriza é a rejeição às medidas de austeridade. Alguns esperavam, talvez, uma coalizão com o To Potami, uma legenda de centro pró-europeísta. Para efeitos de comparação, seria como se a Leviana Luciana Genro ganhasse a eleição presidencial aqui no Brasil e, como aliado, tivesse Levy Fidelix, aquele que não foi reproduzido pelo aparelho excretor (segundo ele, claro).

Apesar dos temores, a vitória de Tsipras não gerou o pânico esperado nos mercados europeus. Talvez porque estes estão em compasso de espera com os rumos que o novo governo grego irá tomar. O artigo do Financial Times "O Tsipras da Syriza passará a ser um Lula ou um Chávez?" (ver aqui) é o que melhor ilustra este questionamento. E o próprio Tsipras deu sinais, ainda que tímidos, de que poderia adotar uma condução mais pragmática caso passasse a governar (veraqui), bem como o fato de que ele rejeita a hipótese da Grécia deixar a zona do euro. Resta saber o quanto pragmático seria, e se a própria Syriza aceitaria moderar o discurso, agora no poder.

Este último questionamento é razoável uma vez que o Ministro das Finanças escolhido por Tsipras, Yanos Varoufakis, um ferrenho opositor dos pacotes de austeridade implantado nos últimos anos, e defende a reestruturação da dívida pública. E tanto Angela Merkel, como o Banco Central Europeu e o FMI não parecem estar tão dispostos a renegociar

Como palpiteiro, enxergo apenas dois cenários possíveis: o primeiro é que o governo de Tsipras adote de fato um rumo mais pragmático na política econômica e implante de maneira mais lenta seu pacote de bondades regado a mais gastos públicos. Em contrapartida, a troika poderia perdoar parte da dívida (mais? Pois é, mais...) e esticar o pagamento do restante. Caberia ao governo grego aproveitar a enxurrada de dinheiro feita pelo BCE de Mario Draghi para fazer crescer a economia e cumprir o compromisso de pagar a dívida com essa expansão.

O segundo cenário, mais trágico, mas apenas um pouco (só um pouquinho) menos provável que o primeiro, seria o governo grego forçar a renegociação da dívida, levar a sério as promessas de campanha em relação ao fim da austeridade e a troika não arredar o pé. Neste caso o calote seria apenas questão de tempo e a Grécia seria "convidada" a sair da zona do euro (o famoso Grexit), o que dificultaria a entrada de investimentos e a tomada de novos empréstimos, sem falar que a dracma (moeda nacional do país helênico, que antecedeu ao euro) começaria bastante desvalorizada. Levando em conta que o governo de Tsipras pretende reduzir os impostos para os mais pobres e taxar as grandes fortunas (medida que se revelou desastrosa na França e que expliquei seus possíveis efeitos aqui), bem como bancar um pacote de "bondades" que inclui religar a energia elétrica de quem  a teve cortada por falta de condições da pagamento, construção de casas populares, aumento do salário mínimo, entre outros. 

Neste caso, a pior situação é que o crescimento da arrecadação de impostos - necessário, mas não muito crível - não acompanhe os gastos a mais necessários para implementar tudo isso. Conforme muito bem ponderado pelo meu colega de bancada Arthur Rizzi (ver seu post, publicado há pouco mais de uma semana), governos têm três opções de financiar seus gastos: impostos, endividamento e, por fim, impressão de papel-moeda. Já seria possível imaginar o resultado disso: o já alto endividamento da Grécia iria praticamente explodir (uma vez que fora da zona do euro não haveria a chance de contrair empréstimos a juros menores). E posto que o governo grego voltaria a ter o poder de imprimir papel-moeda, a última "solução" seria inundar o país com dracmas. Ou seja: além do cenário de crescimento e desemprego incertos, a dívida do país se tornaria ainda mais impagável e uma inflação galopante não seria descartada. A título de curiosidade: a inflação na Grécia variou de 10% a 35% ao ano dos anos 1970 até aos anos 1990. E só ficou abaixo dos 5% (o centro da meta brasileira de inflação é 4,5%) a partir de 1997. Seria um pesadelo ainda pior que as atuais medidas de austeridade.

Para a União Europeia, os dois cenários são problemáticos (ainda restaria saber qual seria o pior): no primeiro, caso a troika aceite a renegociação da dívida grega, ainda que de forma parcial, outros países poderiam realizar o mesmo pedido, e muitos credores teriam que assumir o risco de levarem um "balão" generalizado (sem falar que isso acabaria desestimulando uma maior responsabilidade fiscal, uma vez que em caso de nova crise as dívidas seriam total ou parcialmente assumidas pelo BCE, por exemplo). Já o segundo cenário inflamaria ainda mais os extremismos de esquerda e de direita (lembrando que Marine Le Pen, da Frente Nacional francesa, comemorou a vitória de Tsipras), que acusariam a UE de praticarem ingerências externas nos países menos desenvolvidos do bloco, o que levaria economias mais combalidas a adotarem o caminho do calote e a saída da zona do euro como "solução". Como consequência disso os investidores realocariam seus recursos aplicados para países com economias mais estáveis, como o Reino Unido e a Alemanha, ou correriam para buscar abrigo no dólar dos EUA, que por sua vez entraria em forte valorização. Levando a análise deste cenário às últimas consequências, a zona do euro, tal como a conhecemos hoje, seria implodida e, talvez, a própria União Europeia. Os efeitos para a economia brasileira poderiam variar de um período relativamente longo de nervosismo no mercado financeiro até uma desvalorização do real em relação ao dólar norte-americano, o que levaria a uma pressão inflacionária sem precedentes em vinte anos.

Acredito eu que Tsipras e sua trupe sabem dos efeitos que suas manobras econômicas podem provocar não só em seu país, mas também na economia europeia e mesmo em escala global. É esperar para ver (e cruzar os dados).

Encerrando

É compreensível pensar que as medidas de austeridade adotadas na Grécia tenham levado a população a uma situação de desespero, ao ponto de recorrerem a uma alternativa populista para "solucionar" o problema. Também entendo que a forma de austeridade empregada naquele país não tenha sido nem de longe a melhor, uma vez que levou o país a uma recessão profunda e prolongada. Mas o programa de Alexis Tsipras, tal como apresentado, é pouco (para não dizer) crível no sentido de solucionar a tragédia econômica de seu país. E pode muito bem levá-lo de forma mais rápida (e cara) ao buraco.

UPDATE: Em maio de 2012, já havia um plano de contingência para os bancos europeus na hipótese do Grexit. A expectativa da época era que o retorno da dracma representaria um aprofundamento da recessão e uma inflação de 50% no ano.

UPDATE 2: As primeiras medidas do governo de Alexis Tsipras foram suspender as privatizações no setor elétrico, subir o salário mínimo nacional (como proposto) e recontratação de funcionários públicos demitidos nos anos da troika. A Bolsa de Atenas caiu 9,2% e há o risco de rebaixamento da nota da dívida pela agência S&P.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O futuro(breve) do Partido dos Trabalhadores – parte 2


            Continuando o iniciado no artigo da semana passada, falarei ainda sobre o que poderemos esperar para o partido dos trabalhadores pelos próximos 2-3 anos.  É fato: o governo Dilma é economicamente o pior governo da história do Brasil, só perdendo para o governo Collor(que pegou uma inflação de 4 digitos) e Floriano Peixoto(guerra civil). Aqui está uma breve comparação do crescimento econômico do Brasil com o resto do mundo e com a América Latina desde o primeiro governo FHC https://www.facebook.com/ad.alvarodias/photos/a.204364062954183.52831.199599520097304/881626451894604/?type=1&theater  e sobre o governo Dilma ser o pior, veja aqui(http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2014/02/27/com-dilma-economia-do-pais-cresce-no-menor-ritmo-desde-collor/). Pra tentar salvar o barco, a presidente Dilma nomeou um banqueiro “ortodoxo” para o ministério da Fazenda, o que foi um estelionato eleitoral, assunto que abordarei a seguir.
            Aumento da SELIC 3x, cortes de 18 bilhões em gastos com direitos trabalhistas, nomeação de um banqueiro para a Fazenda e aumento de impostos, aumento gigantesco na conta de luz, volta da inflação, déficit de ~18bi quando prometeu-se um superávit de 100bi, e mais uma infinidade de coisas. O governo do PT é o governo da mentira, e consequentemente,o governo do estelionato eleitoral. A presidente Dilma em momento nenhum assumiu seus compromissos de campanha, muito pelo contrário, fez exatamente aquilo que acusou a oposição de querer fazer(escreverei um artigo sobre “O Brasil caso Aécio tivesse vencido”) e omitiu informações importantes durante a campanha, como o caso do aumento da miséria no país(http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/11/apos-10-anos-de-queda-numero-de-miseraveis-volta-subir-no-brasil.html) e o fato recém noticiado de que as contas da presidente não seriam aprovadas pelo TCU e que na verdade há um rombo de 2 trilhões(https://www.youtube.com/watch?v=TSaAobtQexI ) de acordo com o ministro do TCU. Além disso, de acordo com o indíce de liberdade econômica da Heritage Foundation, estamos em 118º lugar e entre os últimos lugares no ranking continental (http://www.heritage.org/index/country/brazil ). É o Brasil rumo ao Bolivarianismo/socialismo petista. Mas é como este que vos fala sempre diz: Nada disse surpreende os que acompanham os debates dentro do Partido.  O Partido dos Trabalhadores se assume como um Partido Socialista e age como tal, tendo sempre em vista as contradições do momento, de maneira a operar como um governo de transição sempre que necessário, dando apoio e fornecendo dinheiro aos regimes “amigos” e adotando algumas políticas econômicas "neoliberais" sempre que necessário(os membros do Foro de São Paulo e as ditaduras africanas, muitas delas já frequentaram assembléias do Foro como ouvintes). Vendo isso,fica a pergunta que ainda não foi respondida: Aonde estão os eleitores de Dilma agora? Eles sumiram. Não aparece mais ninguém para defender o Partido. O PT mostra clara debilidade, com uma popularidade baixíssima,um número de militantes cada vez menor e apresentando fracassos sucessivos ao tentar mobilizar a população em sua defesa/ajuda.
             Dando uma apimentada maior ainda na conjuntura, temos a questão do “anão diplomático” entre as grandes potências. Isso quer dizer que a diplomacia nacional virou uma espécie de piada, que apoia os regimes autoritários e quer dialogar com decapitadores e terroristas, além de apoiar o narcotráfico internacional. O constante apoio ao Hamas e repúdio contra Israel, o apoio ao ditador Raul Castro, Maduro e similares, perdão de dívidas e empréstimos secretos à ditaduras pelo mundo afora e outros absurdos são os principais fatores que permitem chamar o Brasil e o Itamaraty de “anão diplomático”.

Coroando com chave de ouro tudo isso temos o tal “controle social da mídia” e do judiciário, o que quer que venha a ser isso. O Partido dos Trabalhadores pode chamar do que quiser, mas o gato sempre deixa o rabo de fora. Parece censura e aparelhamento do judiciário porque é exatamente isso. O Partido sempre teve dificuldades em lidar com a liberdade de imprensa, fato facilmente verificável pelos pronunciamentos do ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho, pela lista negra de Alberto Cantalice e pelas notas oficiais do Partido. As pautas revolucionárias do PT como as já citadas estão encontrando grande resistência no congresso, e Eduardo Cunha, candidato à presidência da Câmara, já disse que, se eleito, não colocará sequer em pauta a tal “regulação da mídia”. O 5º congresso é central dentro dessa conjuntura, pois se nada for feito e o partido não mudar de estratégia, ele pode terminar a sua participação na política brasileira nos próximos 4 anos.

domingo, 25 de janeiro de 2015

1% vs. 99%: os equívocos sobre meritocracia e o capitalismo de compadres

(Fonte da imagem: Exame)
Post originalmente publicado no Minuto Produtivo no dia 20/01/2015.

A notícia que chamou a atenção na última semana na seção econômica internacional foi um relatório publicado pela ONG britânica Oxfam (ver matéria no Valor Econômico aqui), que mostra um cenário preocupante: em 2016, apenas 1% da população mundial terá mais da metade do PIB global, contra 48% no ano passado e 44% em 2009. Além disso, o estudo mostrou que apenas 80 pessoas possuem a mesma riqueza de metade da população mundial, contra 85 em 2013. A diretora-executiva da Oxfam, Winnie Byanyima, disse que apesar de lideranças globais como Christine Lagarde, diretora do FMI, e Barack Obama, presidente dos EUA, defenderem a luta contra a desigualdade econômica mundial, muitos ficam apenas no discurso.

É evidente que em um país com distribuição de renda bastante desigual como o Brasil tal notícia causaria bastante polêmica e diversos comentários nas redes sociais. Uns aproveitaram o momento para tecer críticas ao capitalismo, ao "neoliberalismo" (Boulos intensifies) e à meritocracia pelo fato de apenas 1% da população caminhar para ter mais da metade da riqueza existente no planeta (como se a meritocracia não fosse explicar situações tão ou mais extremas do que essa...É só pensar que no ambiente acadêmico algumas disciplinas apresentam taxa de aprovação próxima ou mesmo inferior a isso). Outros aproveitaram o momento para defender o modelo atual, alegando que tal arranjo é melhor que o socialismo (e de fato é, dadas as experiências fracassadas na União Soviética, Cuba e Coreia do Norte, por exemplo). E ambos os grupos erram na crítica, seja pelo alvo, seja por não enxergarem alternativas em relação ao modelo capitalista mainstream em vigor na maioria dos países hoje.

Meritocracia: de fato, o que é?

(Fonte da imagem: Jornal GGN)
Não é a primeira vez que falo sobre meritocracia neste blog [No Minuto Produtivo]. Mesmo que de forma indireta, tratei dessa questão durante a polêmica sobre o "rei do camarote" e também em alguns posts sobre educação (principalmente os relacionados às cotas nos vestibulares das universidades e institutos federais). Dito isso, vejo em diversas ocasiões a meritocracia sendo questionada por algumas pessoas justamente pelo fato destas não entenderem de fato o conceito de meritocracia. Muitos esquerdistas e e até mesmo direitistas ainda pensam na meritocracia como aquela ideia do "se esta pessoa se esforçasse e trabalhasse duro ela deixaria de ser pobre". Tal concepção seria adequada, talvez, na geração de nossos pais, que ainda viviam em um contexto econômico baseado no sistema de produção em massa, em que a demanda tão somente se ajusta à oferta, mas certamente não é adequado no contexto econômico baseado no sistema de produção enxuta, em que a oferta precisa se ajustar à demanda.

O conceito de meritocracia que talvez seja o mais adequado hoje tem a ver com dois conceitos básicos, aprendidos no início de minha jornada como estudante de Engenharia de Produção (que irá terminar no meio deste ano): eficiência e eficácia. A eficiência tem a ver em realizar as tarefas necessárias de uma atividade com um nível ótimo de recursos. Já a eficácia tem a ver em atingir o objetivo final da atividade, que é produzir um resultado que o "cliente" considere como satisfatório.

Uma ilustração bem simples que exemplifique isso é uma máquina de fazer refrescos, daquelas que vocês, leitores, encontram em qualquer lanchonete na rua. Se ela produz mais litros de refresco por dia com o mesmo gasto de energia elétrica, esta máquina é eficiente. Se ela produz um refresco com sabor, quantidade de água e de açúcar tal que o cliente sinta-se satisfeito, a máquina é eficaz. Pouco adianta a máquina de refrescos produzir um suco tal que o cliente goste se ela demora meia hora para fazê-lo (seria eficaz, mas não seria eficiente). E não adiantaria em nada a máquina de refrescos levar trinta segundos para fazer um suco se este não acabasse satisfazendo o gosto do cliente (seria eficiente, mas completamente ineficaz). É evidente que é no mundo de hoje ser eficiente e eficaz é ideal, mas o último item é o mais importante.

O que esta explicação e esta ilustração tem a ver com meritocracia? Absolutamente tudo: a meritocracia consiste em entregar um resultado que melhor se adeque às exigências da sociedade, portanto tem uma relação mais íntima com a eficácia na realização das tarefas de uma atividade (muito embora a eficiência também é necessária). O conceito de trabalho e esforço máximos como alavanca para o sucesso, além de não garantir eficácia, costuma ser o oposto da ideia de eficiência, uma vez que muitas vezes os recursos utilizados na realização das tarefas são utilizados de forma pouco racional (muito embora circunstâncias específicas levam a essa prática exaustiva).

Explicado de forma bem didática o conceito de meritocracia, alguém deve estar se perguntando "Ah, você então acredita que esses 1% conquistarão mais de 50% do PIB mundial por mérito?". Minha resposta: sim e não. Sim porque nada impede que esses 1% conquistem mais de 50% mundial por se adequarem às demandas dos 99% da sociedade. E não porque no arranjo econômico atual sei que isso, isoladamente, não explica tamanha diferença, mesmo considerando que a desigualdade econômica e social seja tão natural quanto às variações entre indivíduos distintos. Este é o assunto do próximo tópico.

O capitalismo de compadres e sua responsabilidade no quadro atual

(Fonte da imagem: Getty Images/The Economist/Breitbart)
O capitalismo de compadres, também conhecido como capitalismo clientelista, capitalismo de laços ou crony capitalism no exterior, é um arranjo que descreve uma economia em que o sucesso nos negócios possui forte dependência das relações com o governo, em alguns casos sendo mais determinante que a adequação às exigências do mercado (um ataque direto à meritocracia do tópico anterior). Em tal arranjo, o favoritismo nas autorizações legais, a distribuição de subsídios, o uso de incentivos fiscais especiais e outras formas de dirigismo - incluindo o resgate a bancos ou empresas em falência - são comuns, criando um ambiente propício ao fisiologismo e à corrupção.

Tal arranjo ganhou muito mais força e visibilidade nos acontecimentos posteriores à crise de 2008, em que os governos de diversos países tomaram as rédeas para salvar alguns setores (principalmente o financeiro) de uma iminente hecatombe, bem como criar incentivos fiscais e creditícios para estimular, em muitos casos, o consumo (como foi no Brasil). O problema de algumas formas desse dirigismo governamental na economia consiste em alocar dinheiro proveniente dos impostos (majoritariamente pagos pelas classes trabalhadoras mais pobres, em termos absolutos) para socorrer empresas a beira da bancarrota ou para torná-las gigantes no mercado nacional e internacional (caso da política de campeões nacionais do BNDES, mal-sucedida, diga-se de passagem). Basicamente trata-se de uma transferência de renda às avessas, em que o dinheiro dos mais pobres acaba parar nas mãos dos mais ricos. Além desta constatação óbvia, os efeitos negativos desse compadrio são o encarecimento de produtos/serviços e a perda de qualidade dos mesmos, dado que tais empresas não serão substituídas por concorrentes (em caso de falência) ou terão um mercado mais competitivo (no caso de financiamentos para transformá-las em megacorporações). Tal quadro pode ser piorado no caso do governo adotar medidas protecionistas ou criar um ambiente interno fortemente regulado para dificultar ou mesmo impedir a entrada de concorrentes nacionais e estrangeiros. Resumo da ópera bufa: dinheiro dos 99% mais pobres bancando direta e indiretamente os 1% mais ricos e estes podendo ampliar suas margens de lucro (e consequentemente os preços) devido à baixa presença de concorrentes. Está mais que óbvio que isso resultará em aumento das disparidades de renda. Definitivamente o "neoliberalismo" não tem nenhuma culpa nisso.

Alan Greenspan, no livro O Mapa e o Território (confira a primeira parte da resenha aqui, e até o final deste mês disponibilizo no blog a segunda parte), cita um aspecto importante do capitalismo que é descartado no capitalismo de compadres: a destruição criativa, conceito popularizado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter que descreve o desaparecimento e substituição de empresas e tecnologias obsoletas por concorrentes. Segue abaixo (me reservo ao direito de grifar algumas partes):

"O lado escuro do capitalismo é que a riqueza só é criada quando se permite que tecnologias e empresas obsoletas desapareçam e sejam substituídas. Há um sofrimento inevitável nesse processo. Só crescimento econômico, desemprego baixo e novas vagas de emprego podem mitigar a intranquilidade econômica, pelo menos em parte. Não há nenhuma maneira de eliminar totalmente o sofrimento experimentado por aqueles que são as baixas de mercado da destruição criativa. Para que os padrões de vida se elevem, a produtividade deve crescer. Mas isso requer que "novos" ativos de capital estejam constantemente substituindo os "velhos" e os empregos a eles associados. Políticas de governo que tentam limitar o sofrimento e a aflição do ajuste econômico sustentando empresas de baixa produtividade estagnadas ou em falência contra as pressões da destruição criativa dificultam e atrapalham o crescimento econômico. Ironicamente, tais políticas também dificultam o surgimento de empregos que aqueles que foram substituídos economicamente buscavam. Nos últimos anos um número exagerado de empresas que se deveria ter permitido que falissem (e se reestruturassem) ou encolhessem foi sustentado por regulação ou resgates com dinheiro de impostos pagos pelos contribuintes."

Luciano Takaki, em um artigo publicado no Instituto Liberal, foi mais enfático nesse ponto:

"Esse terceiro argumento é praticamente uma extensão do primeiro. Podemos dizer, moralmente falando, que o socorro de empresas é uma aberração por ser uma espécie de meritocracia às avessas.

O socorro de empresas nada mais é que premiar a sua incompetência. Uma vez que a empresa não atende mais a demanda do mercado (não importando o motivo), ela deve pagar pelo seu erro quebrando. Essa quebra estimula a concorrência e a eficiência. Mesmo que haja uma quebra dos concorrentes potenciais isso apenas evidenciará que as empresas estavam investindo numa fatia do mercado onde não há demanda. [...]

O resgate de empresa na verdade não salva emprego nenhum, a não ser de quem não quer sair da empresa socorrida. Como citado anteriormente, o socorro de empresas freia a livre concorrência. Ao mesmo tempo que ele “salva” o emprego de uns ele impede o surgimento de outros, ou mesmo impede que muita gente troque de emprego por um possivelmente melhor.

Mas isso não é tudo. Como a empresa não oferece um serviço que atenda a demanda social, os milhares de empregos “salvos” pelo socorro deixam de ser empregos e passam a ser parasitismo. Funcionários que deveriam ser demitidos acabam por receber o seu salário de maneira ociosa e bancado pelo dinheiro público.

É estupidez acreditar que o socorro de empresas salva empregos. O que ele faz é impedir novos empregos de serem criados e gerar parasitas."

Enfim, o mesmo Estado que pretensamente combate a desigualdade por meio de programas de transferência de renda é o mesmo Estado que toma uma parte da renda dos 99% para que esses 1% não sejam "rebaixados", alegando proteger os 99% ainda. Mais uma vez, o livre mercado e a meritocracia tão criticados saíram para tomarem uma breja no bar da esquina.

Mas afinal, quanto se ganha para se estar nos 1% mais ricos?

Quando se fala nos 1% mais ricos as pessoas imediatamente pensam em bilionários como Bill Gates, Carlos Slim, Warren Buffett e outros empresários e/ou investidores. Mas na verdade estar neste seleto grupo basta você ganhar US$ 34 mil por ano. Isso equivaleria a um salário próximo a R$ 7 mil por mês (incluso o 13°) no Brasil. É um salário normalmente pago a servidores públicos com mestrado e doutorado (principalmente) ou com graduação (com mais tempo de carreira). Na iniciativa privada se aplica normalmente a cargos de nível tático e estratégico (em geral, com nível superior e um bom gabarito em cursos de informática e idiomas). Se você ganha mais que isso e vocifera contra esses 1%, inclusive defendendo impostos sobre grandes fortunas com o intuito de redistribuir a renda, ou se você faz isso tendo um pai ou mãe que ganhe mais de R$ 7 mil, cuidado...Esse "cuspe" pode parar na sua testa (ou na de seus pais).

É importante lembrar que um aspecto muitas vezes ignorado nessas estatísticas de distribuição de renda é o poder de compra dos salários, ou seja, o que este consegue comprar ou permite a quem o recebe realizar alguma coisa. Uma pessoa que esteja na "base" dos 1% mais ricos do mundo aqui no Brasil pode não conseguir (e acaba não conseguindo) adquirir bens e serviços em relação a um norte-americano que esteja no "topo" dos 99%.

E o que você defende então?

Conforme dito nos parágrafos anteriores boa parte deste problema é resultante da interferência desnecessária e manipuladora do Estado sobre a economia, que acaba favorecendo de uma forma ou outra grandes corporações e empresários que certamente não teriam condições tão vantajosas em uma economia de livre mercado, uma vez que seriam obrigados a competir e disputar clientes "no tapa" por meio de redução das margens de lucro. Portanto o Estado pode ajudar muito, inclusive na distribuição de renda, se ele limitar o escopo da intervenção econômica à limitação de práticas que distorcem a livre concorrência, como trustes, cartéis e monopólios, por exemplo, bem como uma mudança na linha de ação dos bancos de desenvolvimento (no caso brasileiro), de uma política de fortalecimento de grandes empresas para uma política que facilite a chegada de novos players em diversos setores da economia, e políticas fiscal e monetária previsíveis, bem como um sistema tributário mais simples, inclusive com estímulos (leia-se: cobrança menor de impostos) para empresas que permitem aos seus funcionários participarem dos lucros ou terem participação societária nas mesmas, deixando o mercado cuidar do restante. Apenas isso já ajudaria bastante no sentido de pulverizar o capital, o que facilitaria a redução ou pelo menos brecaria o crescimento dessa estatística compreensivelmente preocupante sobre desigualdade.

Programas de transferência de renda e bem-estar social são importantes e até necessários, mas isoladamente não solucionam o problema, criando um efeito "enxuga-gelo" e um nocivo ciclo de dependência do governo, o que em longo prazo compromete o crescimento econômico. Em síntese, minha visão econômica se aproxima muito do ordoliberalismo, política econômica adotada na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial e que continua rendendo frutos no governo de Angela Merkel.

Enfim, as preocupações com essa concentração de riqueza são compreensíveis. O que não é compreensível é a defesa se soluções com a ideia pretensa de reduzir essa desigualdade mas que no final não resolvem o problema e acabam empobrecendo a todos.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Passe livre: sempre foi, é e será uma farsa

É pelos centavos sim! (Fonte da imagem: Yahoo Notícias)
Post originalmente publicado no Minuto Produtivo no dia 10/01/2015.

Como é de conhecimento de muitos, 09/01 foi o dia em que milhares de pessoas saíram as ruas para voltar a protestar, desta vez contra o aumento das tarifas de transporte coletivo não só em São Paulo (onde foi o maior ato), mas em outras capitais e grandes cidades do Brasil. E como era de se esperar (seria surpresa se isso não ocorresse), os protestos terminaram em confronto com a PM e a ação de terroristas black blocs (sim, black blocs são terroristas e se você não gostou do que eu disse azar o seu). Como dizia o sábio de Eclesiastes, um livro do Antigo Testamento da Bíblia, "nada de novo debaixo do sol".

Para quem lê e acompanha este blog há algum tempo, muita coisa do que irei falar por aqui não é novo, até porque já comentei de forma até exaustiva sobre a questão do "passe livre", sendo que um de meus comentários, do dia 21/06/2013 (portanto durante a micareta que tomou conta do país naquele período), você pode conferir aqui. Salvo um ou outro ajuste no texto, reitero tudo o que disse na época.

Mas como certas parvoíces são recorrentes, alguns esclarecimentos também precisam ser recorrentes. E o título do post é bem claro quanto ao que direi nas próximas linhas: o passe livre sempre foi, é, e será uma farsa. Ultrapassa qualquer limite de estupidez uma discussão cuja base é uma vigarice intelectual. Aliás qualquer pessoa com o mínimo de senso lógico (nem vou tocar ainda no senso econômico pois eu sei que este tende ao péssimo em terra brasilis) sabe ou deveria saber que os serviços públicos, gratuitos e de qualidade (quanto ao último item é mais fácil achar um velório de anão do que isso) que o governo "dá" a população são pagos pelos pagadores de impostos, ou seja, nós. O fato do atual Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, precisar deixar claro uma obviedade, inclusive citando a frase popularizada pelo economista Milton Friedman "não existe almoço grátis", já nos dá a noção da pífia e patética cultura econômica que ronda o Brasil, inclusive nos círculos universitários, de onde inclusive vêm boa parte da massa que engrossa MPL's da vida e tudo mais. E o Manteganomics é só um exemplo caricatural.

"Ain, mimimi, você tá defendendo empresário que lucra abusivamente em cima da desgraça do povo, que anda feito sardinhas, mimimi...", pode estar choramingando alguém agora. Primeiramente, é importante frisar que nenhum empresário abriria qualquer negócio se este não desse um lucro maior do que se ele colocasse o dinheiro investido no banco para render alguns trocados de juros (nem cito o simples fato de esperar lucro pois isso deveria ser óbvio para algumas cabeças ocas pensantes). E segundo, tanto os insumos como mão-de-obra necessários à operação e manutenção de metrôs, trens e, principalmente, ônibus (este último meio de transporte comum a todos os sistemas de transporte coletivo no Brasil) são reajustados periodicamente e, mesmo considerando eventuais reduções de custos em outros aspectos, as tarifas precisarão ser reajustadas, mais dia ou menos dia (a propósito, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro) os aumentos das passagens não ocorriam desde a revogação dos mesmos em junho retrasado. E manter tais tarifas congeladas implica, necessariamente, em mais subsídios às empresas de ônibus, pagos por...Adivinhem, impostos!

E por falar de impostos, bem...Vamos pensar que de repente todos os prefeitos e governadores, em um lapso de "bondade", estabelecessem a bendita tarifa zero, dando transporte público (!), gratuito (?) e de qualidade (?!) a todos. Caso alguém acredite que os empresários finalmente sentiriam na pele tal medida, podem esquecer. Os lucros destes continuariam garantidos por meio dos subsídios públicos, que passariam a ser integrais. E como dito anteriormente, estes subsídios são pagos por impostos, pagos tanto por quem usa diariamente o transporte coletivo como por aqueles que não usarão em nenhum momento. Para quem costuma reclamar de pagar as coisas "duas vezes", parece um baita incentivo. Só que não.

"Ain, mas se o Estado assumisse o transporte público os empresários deixariam de lucrar abusivamente", baba um militante hidrófobo. Ok, você venceu. Acontece que tanto os insumos como a mão-de-obra continuariam sendo pagos (com dinheiro e não com amor, para ficar claro) e continuariam sendo reajustados periodicamente. Sendo assim, seriam necessários aportes de dinheiro público para bancar essa "dádiva" para a população. Dinheiro esse proveniente de...Impostos. Que continuariam pagos tanto por quem usa o sistema como por quem não usa. Ah, isso porque nem toquei - nem tocarei - no mérito de discutir o modus operandi e o sistema de incentivos no serviço público ou em empresas estatais.

"Ain, mas com tarifa zero mais pessoas deixariam o carro na garagem e passariam a andar de transporte público!" - tenta outro militante acertar uma bala de prata naquele que vos escreve. Ótimo, mas "mais" não significa "todos". Continuaria existindo gente pagando sem usar (por meio de impostos) para ter gente andando sem pagar (e que fique mais claro ainda antes que tentem usar o discurso mocorongo da "redistribuição de renda", como já fui obrigado a ler no Facebook: tanto os mais pobres como os mais ricos, estes com condições de pagar passagem, estariam no último grupo). E acho que você entendeu onde que quero chegar com minha fala.

Enfim, farsas não foram feitas para serem discutidas muito menos para serem defendidas. Foram feitas para serem combatidas. E o estudo, bem como a informação, são as principais armas.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O futuro(breve) do Partido dos Trabalhadores- Parte 1



            Como já citei algumas vezes em artigos anteriores neste blog, 2015 será um dos mais importantes anos na vida do Partido dos Trabalhadores, pois é o ano do Petrolão, do 5º Congresso e da crise econômica. O ano já começou mal para o partido, com Marta Suplicy, fundadora do PT e líder histórica, dando uma entrevista bomba ao Estadão(http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,marta-critica-dilma-ataca-colegas-e-afirma-ou-o-pt-muda-ou-acaba,1618119 ); Zé Dirceu “brigando” com o partido, fazendo duras críticas à gestão Dilma(http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,dirceu-retoma-articulacao-politica-para-tentar-recuperar-poderes-dentro-do-pt-imp-,1623108); a prisão de Nestor Cerveró, que por meio de seu advogado disse que Graça Foster, Presidente da Petrobrás, deveria estar presa junto com ele(http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/advogado-de-cervero-questiona-por-que-nao-mandaram-prender-graca-foster ) ; e um dos empreiteiros
investigados, Gerson de Mello Amada, afirmou:
Não por coincidência, a antes lucrativa sociedade por ações, PETROBRÁS, foi escolhida para geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias”( http://oglobo.globo.com/brasil/lava-jato-esquema-na-petrobras-foi-montado-para-financiar-base-aliada-diz-empreiteiro-15122139 ), entre outros.
            A pergunta que fica no ar em tempos como esse é: Onde está Lula? Será que ele foi investigar o Petrolão para provar que o esquema nunca existiu, como prometeu que faria no mensalão? ( https://www.epochtimes.com.br/lula-diz-mensalao-nao-existiu-entrevista-rede-portuguesa/#.VMIFOEfF9HU ) Será que foi se esconder da polícia, pois está envolvido até o pescoço com a coisa toda, principalmente com o caso da refinaria Abreu e Lima, aquela que foi projeto dele e de Hugo Chávez( e que a Venezuela não pagou um centavo do prometido até hoje), que ia custar 2,5$ bilhões e hoje já custa mais de 18$bi e está longe de ficar pronta?( http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/01/1578263-petrobras-admite-que-balanco-pode-mostrar-prejuizo-com-abreu-e-lima.shtml ).  O ex-presidente foi quem indicou os diretores e o presidente da Petrobrás à época, como Paulo Roberto Costa, José Sérgio Gabrielli, Nestor Cerveró e Pedro Barusco(o homem de 100 milhões de doláres).
            Para tentar escapar da crise interna e externa, o Partido dos Trabalhadores terá neste ano o 5º Congresso do partido, que terá como uma das principais pautas a renovação do modelo organizacional do Partido, além da atualização do projeto partidário(criminoso) e do programa do PT.

“-PAUTA
1) - Estratégia e programa do PT
 -Atualização do projeto partidário
- Desafios dos novos tempos
 Situação política internacional e nacional
Quarto governo do PT e perspectivas futuras
2) - Aprimoramento da organização partidária
- Renovar o modelo de organização do PT
- Alteração do Estatuto
- Processo de eleição das direções partidárias
E o roteiro do 5º Congresso do PT pode ser encontrado em http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2014/12/5%C2%BA-Congresso-roteiro.pdf . Só ressaltando que entre os principais assuntos em discussão, estarão os seguintes:
“1. Crise do capitalismo e perspectivas políticas
 1.1. A situação econômica e política internacional
 1.2. América Latina
 1.3. A construção de alternativas à ordem imperialista
 1.4. A construção do internacionalismo socialista
 1.5. A defesa do socialismo democrático no próximo período
Histórico”.
                O congresso tentará propôr soluções para um problema que o PT jamais teve: o partido perdeu quase toda a sua militância, não consegue chamar mais ninguém pra ir pra rua(só a militância pão com mortadela, paga com dinheiro público por sinal) e a escassez total de intelectuais dentro da esquerda( consolidada pelo Sr. De São Bernardo do Campo: “Cadê os intelectuais do PT? Eram tantos e eles gostavam de estar no partido porque acreditavam no que a gente dizia”  http://bahiaempauta.com.br/?p=105597 ). Além de tudo isso, temos também o caso da tentativa a todo custo de controlar a imprensa por meio do “controle social da mídia”/ “democratização dos meios de comunicação”, que é uma farsa em todos os sentidos possíveis,mas continuarei na semana que vem.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Algumas notas sobre o ano que chegou.

                Mais um ano vem por aí e pelo visto vai ser um daqueles. Será um ano de turbulências políticas tanto no Brasil como no mundo, no caso tendendo para a melhora, pois as turbulências serão resultado de reações das “forças conservadoras”.
                No Brasil, o Partido dos Trabalhadores está em uma situação delicada, com o Petrolão batendo à porta e a ascensão da “nova direita”. Será sobretudo um ano de grandes lançamentos editoriais para ela, principalmente com os livros de Bruno Garschagen, Flávio Morgenstern, Alexandre Borges, Rodrigo Constantino, Graça Salgueiro, Olavo de Carvalho(Jardim das Aflições e outros) e muitos outros. O congresso é o mais conservador há várias decadas, os pensadores da direita no Brasil(OdeC, Felipe Moura Brasil, Reinaldo Azevedo,etc) só aumentam em popularidade e vendas editoriais e acesso em suas colunas e o povo pela primeira vez continuou interessado na política depois das eleições, isso sem contar que o Foro de São Paulo finalmente virou assunto no debate público. Isso sem contar a questão da economia nacional, assunto do próximo parágrafo. Ao que tudo indica, será um péssimo ano para as esquerdas brasileiras e um ano propício ao crescimento da oposição como um todo.
                A economia na república das bananas está hoje em estagflação e não apresenta muitos sinais de melhoras. É o “jeitinho Dilma/PT” de conduzir as coisas. Uma soma de incompetência, corrupção, burrice e excesso de estatismo e intervencionismo.  O setor industrial só vem piorando, a inflação está de volta, a equipe econômica anunciou aumento de impostos¹, o crescimento está zerado, temos um rombo de R$2 trilhões e a (ex)maior estatal brasileira está em frangalhos - hoje ocupando as páginas policiais. Isso são apenas alguns dos problemas na economia. A lista não tem mais fim se formos listar todos eles. Recomendo esses 2 artigos de Leandro Roque, postados no site do Instituto Mises Brasil(são longos):
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1984 –“O que nos aguarda e o que deve ser feito”
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1943 –“O que houve com a economia brasileira?”
                Nos EUA, a situação inteira mudou depois das eleições desse ano para o Congresso americano. O GOP(oposição) agora tem as 2 casas, ou seja, a governabilidade para Obama ficará um desastre, sendo somente possível governar por decreto. Essa é possívelmente uma das maiores mudanças no panorama político global, pois indica uma grande possibilidade de vitória dos republicanos na próxima eleição para presidente. Tal acontecimento mudaria drasticamente todo o cenário político internacional, principalmente porque a política externa,a de imigração/fronteiras e a econômica americana dariam um giro de 180º(Obama é um socialista fabiano). A economia americana também cresceu cerca de 4.5%-5% esse ano e tende a continuar nesse ritmo,o que significa que podemos dizer que a crise foi embora.
                O governo de Obama pode também, além de tudo, ter propiciado o surgimento de uma “Taiwan latino-americana” ao reabrir as relações com Cuba. Saiu no jornal da GloboNews que nos próximos anos, entrará uma montanha de dinheiro em investimentos na ilha comunista caribenha vindos dos EUA. A experiência histórica nos mostra que tais ações não adiantam nada para acabar com um regime socialista, muito pelo contrário, fortalece-se o aparato repressor(ver o caso chinês por exemplo). No fim, o que se realizará é a criação de uma potência economico-militar empenhada em difundir o socialismo no continente.
                A ascensão dos republicanos também poderá mudar a situação de Vladimir Putin na política internacional. 2014 não foi um bom ano para ele por conta dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, além de um aumento do autoritarismo no regime russo. A reputação de Putin não anda muito boa, e uma vitória dos republicanos em 2016 nos EUA poderia ser catastrófica para a política internacional putinista-eurasiana.
                2015 será um ano marcado por conflitos internos nas políticas em vários países,o que é um bom sinal para a democracia e para as liberdades, até porque a essência mesma da democracia é o confronto político e a divergência(nesse caso uma divergência real e não uma operação de desinformação de criação de falsas dissidências, com vista a um projeto de poder totalitário).
                O ano presente também é fundamental para o Partido dos Trabalhadores, pois é nele que ocorrerá o 5º Congresso do PT, que terá como uma das pautas principais, repensar o partido perante a crise e definir a estratégia partidária(ou pode chamar de criminosa no caso) . O evento terá como foco também o “socialismo petista” e terá, como de costume, Lula discursando. Ao mesmo tempo que o petrolão e a crise de popularidade e de militância atinge em cheio o Partido, ele tenta se reorganizar(como ocorreu em 2005-2006, após o estouro do mensalão) para reeguer-se.

                E por fim, o ano já começou errado. O atentado ao Charlie Hebdo pelos mussulmanos alertou os líderes europeus contra o perigo islâmico e relembrou que o islã revolucionária “Qutubiano” é uma ameaça real a todos. Mas, para não variar, a establishment midiático internacional quase inteiro varreu para baixo do tapete os mais de 100.000 cristãos assassinados por ano nos países socialistas e islamicos e aproveitou o atentado terrorista para atacar o “fundamentalismo religioso”. Pois é leitor, pelo que parece, esse ano será, para quem gosta de polêmica e debate, um excelente ano.